domingo, 5 de junho de 2011

Ao cair da tarde...

Ao cair da tarde, o sol se pondo por detrás das árvores, sento-me à frente de casa e lanço um olhar ao longo dos caminhos que trazem até aqui.
Estão em silêncio e vazios, como silenciosa e vazia é a vida feita de ausências e saudades.
Sirvo um mate. E o amargo também amarga os pensamentos que parecem me dizer, querem me fazer ver, que tudo e todos de mim estão sumindo, bem devagar e de mansinho como o fumo do cigarro desfazendo-se no ar.
Coisas dessa vida que é dona da gente, que arma e desarma destinos, sem perguntar se estamos de acordo.
Sorrio. Um sorriso melancólico, é verdade, no paralelo que ora traço quando lembro os tempos de menino.
Sim, daqueles tempos, quando criança sem limites, em algumas travessuras caía e provocava algum ferimento. Passados alguns dias, sentava à um canto qualquer da casa e começava a tirar a casquinha que se formara, bem devagarzinho, com cuidado, para não doer e não ferir outra vez. A cada dia um poquinho mais, até não restar nada, sinal nenhum.
Pois é.
Assim estou me sentindo. Como se a vida, com todo jeitinho, estivesse tentando tirar de mim todos que amo, com aquele mesmo cuidado para não doer, como eu fazia com aquelas casquinhas.
Mas não adianta. Dói, sim, dói muito. Pois que assim está me rasgando a alma, ferindo o coração, feridas que, sei, não irão desaparecer, nem cicatrizar.

Renato Oliveira

Do meu amor...

Não sei se meu amor é grande
Ou infinitamente nada diante do teu amor.
Mas sei que ele é do tamanho que o sinto.
Imenso, capaz de cobrir o mar, enfeitar o céu.
E sei, também, que sem teu amor nada tem sentido.
Eu queria ser o colo que te acolhe
Nos teus momentos de solidão ou desesperança.
Ou, então, o braço que te envolve
E te ampara quando menos sentires o sentido da tua vida.
Queria ser a liberdade com que anseias
Andar teus passos por calçadas e ruas, vazias ou cheias,
Onde pudesses te reencontrar contigo, te reconhecer
No silêncio que te respeita no teu silêncio de palavras,
Mas enormemente loquaz na volúpia do teu pensar.
Queria ser o teu direito a ter o direito de andar solitária
Quando, em tua alma, vem essa vontade libertária
De abandono de fazer de ti aquilo que quiseres.
Eu queria ser tudo isto para ti.
Mas, acima de tudo, quero ser teu amor,
O amor que não aprisiona, que não enclausura,
Um amor que apenas ama, na certeza de saber,
No amor enclausurado, o quanto há de tortura.