Estão em silêncio e vazios, como silenciosa e vazia é a vida feita de ausências e saudades.
Sirvo um mate. E o amargo também amarga os pensamentos que parecem me dizer, querem me fazer ver, que tudo e todos de mim estão sumindo, bem devagar e de mansinho como o fumo do cigarro desfazendo-se no ar.
Coisas dessa vida que é dona da gente, que arma e desarma destinos, sem perguntar se estamos de acordo.
Sorrio. Um sorriso melancólico, é verdade, no paralelo que ora traço quando lembro os tempos de menino.
Sim, daqueles tempos, quando criança sem limites, em algumas travessuras caía e provocava algum ferimento. Passados alguns dias, sentava à um canto qualquer da casa e começava a tirar a casquinha que se formara, bem devagarzinho, com cuidado, para não doer e não ferir outra vez. A cada dia um poquinho mais, até não restar nada, sinal nenhum.
Pois é.
Assim estou me sentindo. Como se a vida, com todo jeitinho, estivesse tentando tirar de mim todos que amo, com aquele mesmo cuidado para não doer, como eu fazia com aquelas casquinhas.
Mas não adianta. Dói, sim, dói muito. Pois que assim está me rasgando a alma, ferindo o coração, feridas que, sei, não irão desaparecer, nem cicatrizar.
Renato Oliveira