sábado, 15 de outubro de 2011

Era uma vez...

Era uma vez... Assim tantas coisas começam -começaram- e terminam -terminaram, sem nunca terem existido de fato.
Era uma vez... Um sonho, um desenho de vida, uma aquarela que se pintava com todas as cores, as mais vivas e alegres, que tínhamos à nossa disposição.
Era uma vez... Aspirações, desejos, ideais, que se dispersaram na necessidade de viver a vida que a sociedade, a sábia sociedade, nos impunha como sendo o mais correto, diante de suas normas éticas e morais - isso, sim, pura hipocrisia.
E assim foram nos despindo de nossas fantasias, da magia dos sonhos, do encanto com que se buscava a vida que era nossa.
Mas para os renitentes, para os "rebeldes", restaram as palavras. Aquelas jamais escritas, aquelas que foram escritas em segredo, e que se mantiveram em segredo, longe dos olhos que as poderiam condenar.
E assim passamos a existir. Uma dualidade que jamais conseguem vislumbrar.
Aquela existência real, só nossa, quando mergulhamos em nosso mundo, onde poucos, raros, têm oportunidade de fazer parte.
Aquela do dia a dia, que se apresenta do jeito, da maneira, que todos esperam. Tendo as reações que todos esperam. Tendo as respostas que todos esperam.
E assim passamos a nos vestir e despir de vida, conforme o momento, de acordo com as necessidades de quem nos cerca. Esses, que jamais nos verão e conhecerão em nossa essência mais pura, de alma e coração.

Era uma vez...
Ah! O quanto esta expressão me trás, ou me dá, uma melancolia tão grande...
Eu não queria crescer, eu não queria ser adulto, pois ser adulto dói muito.
Quase que numa visão do que viria, eu pedi à Deus para não crescer. É verdade.
Numa manhã de primavera, sentado às margens do Guaíba, eu fiz este pedido.
Mas parece que não fui ouvido. Cresci, mas confesso que guardo dentro de mim a mesma criança sonhadora, os mesmos sonhos, como se fosse possível, nessa curva descendente, ainda realizá-los.
Mas isto não importa. Importa é que existam e tornem mais suaves cada instante em que ainda estarei por aqui. E não me preocupo com a distância ainda a percorrer.
Ainda posso abrir a janela ao amanhecer, sorrir para a vida, e sentir a vida me sorrindo.

Renato Oliveira



2 comentários:

  1. vera maria leitão wild10 de novembro de 2011 às 09:20

    Excelente! Escreves com muita sabedoria e percepções dos sentimentos que fazem parte de nosso ser, nossas vivências, nosso dia a dia, pontos de vistas, frustrações, esperanças. Tens um interior muito rico. Parabéns. Um abraço da prenda Vera. 10.11.11.

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  2. Renato...

    Era uma vez um melancólico poeta
    Onde em seu livro em branco estavam todas as páginas
    Todas esperando uma linda história de amor
    Que ainda não se concretizou
    Não tendo mais nada em mente
    Decidiu escrever algo diferente, mas com arte
    Foi assim que descreveu a sua vida
    Em "Era uma vez ..."
    "Onde poucos,raros,
    Têm oportunidade de fazer parte."

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