quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Já não tenho mais 20 anos...



Já não tenho mais vinte anos.
E não mais brilham a minha volta
As cores luminosas da juventude.
Quedo-me aos silêncios que me cercam
E me deixo arrastar nessas lembranças,
Sorvidas em pequenas doses de saudade.   
Tremulando no pensamento,
Cada rosto relembrado é o passado
Que retorna em sua mais perfeita imperfeição
De passado. Um mundo que sinto e vejo e não posso tocar. 
Qual criança brincando no escuro, procuro a vida de outrora.
Ela desapareceu...

Mas isto não me deixa triste
Porque sei que tudo existiu.
A vida, agora, tem outro gosto e outro brilho
Na mansidão de uma eterna primavera, colhida
Ainda que tardia,
Por entre risos e sorrisos e olhares e palavras
Que me fazem bem à alma.
Sento-me ao jardim desse entardecer, sem as amarras
De um viver vazio que ora se desgarra,
E colho com meu olhar de paz
As cores, os brilhos, os perfumes, e até a brisa,
Que tua presença me trás.

Renato Oliveira

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Do inconsciente...

Do inconsciente,
Subitamente,
Vem à mente
Um pensamento.
Coisa de momento
A compor o tempo
Que temos a perder.
Contam-se as horas
Que, pela vida afora,
Foram, sem demora,
Gastas em nada fazer.
O resultado entristece,
Pois que estabelece
Que quanto mais se fizesse,
Mais se continuaria a dever.
Por meio mais um ultrapassado
O limite do avençado,
Vemos, exasperados,
O prazo fatal decorrer.
Inclemente, inexorável,
O ciclo do tempo, imutável,
Torna cada vez mais palpável
O nada que conseguimos ser. 

Renato Oliveira

domingo, 6 de setembro de 2015

Mais uma vez...



Mais uma vez, meu sono parece ter ido passear por mundos outros, que não em mim. E deixa-me a noite vazia como companheira.
Está ventando. Por vezes forte, depois um pouco mais calmo, o vento vem passeando pela casa, trazendo um cheiro de saudade no ar. E, estranhamente, espalha um perfume de presença, uma sensação de aconchego em braços que sei existirem, mesmo que distantes.
Chega a dar um arrepio gostoso na pele, como se fossem tuas mãos me tocando, como se fossem teus lábios, leves, roçando em mim, suavemente.
Ouço, no cantar do vento, a tua voz suave sussurrando uma canção. Voz de algodão doce, cheia de ternura. Com aquele jeitinho que desperta toda emoção que se guarda e se desdobra diante dessa tua presença etérea e tão concreta nos meus sentimentos.
Leves, como um sonho, ondulando por meus pensamentos, há um rosto, um olhar, e um sorriso. Despertam-me ideias, ideais, desejos e fantasias nessa noite de horas lentas e silenciosas, onde só a voz do vento se faz ouvir. E eu abraço esse espaço que é teu por entre meus braços.
E lá se vão as horas passando lentamente pelas escalas do tempo, enquanto espero o amanhecer, bordado de cores e brilhos, colhidos no teu olhar, no teu sorriso.

Renato Oliveira.