Nos passos cansados e lentos,
Me encaminho para as festas do silêncio.
Olho para trás; não deixo marcas
De mim. Do que fui tudo se apaga.
O tempo-criança brinca com as tranças
Do tempo-velho; sepulcro e berço.
Entre um e outro, ergui meu deserto
Povoado de sonhos adolescentes.
Em buscas e procuras do amor ausente,
Que brinca de ser-não-ser amor presente.
Em busca das manhãs onde a vida se prova,
Na voragem do tempo que tudo devora.
Entre um e outro, berço e sepulcro,
Os sonhos não morrem; jazem inertes e mudos.
Enfim, e por fim, um último brilho, a vida se ilumina
No despertar da verdade pura e cristalina.
O corpo, da alma e do espírito desnudo,
Descansa na poeira do nada absoluto.
Renato Oliveira
A tua caixinha de música está sobre a mesa; a bailarina, de rosa vestida, em seu lugar de destaque. A música começa a tocar e a bailarina, a girar.
Fecho os olhos e as notas invadem a sala, rodopiando ao meu redor. São de cores variadas, verdadeira fantasia de um mundo mágico que só existe no (sub)consciente dos sonhos.
E a bailarina parece tomar vida, vem rodar em torno a mim. Olho-a atentamente. Ela toma não somente vida, mas também tuas formas: teu rosto, teu olhar, teu sorriso. A bailarina és tu.
Tento tocá-la, abraçá-la, mas cessa a música e tudo se desfaz. Olho em volta te procurando mas só encontrando tua caixinha de música, muda e esquecida sobre a mesa.
Renato Oliveira
Os meus segredos
Eu os tenho em segredo.
Minha alma é uma casa
De portas e janelas fechadas,
A olhares estranhos vedada.
Ando despido de vida,
Vestido apenas dos sonhos
Que se fazem todos os dias,
Adornados pelas fantasias
De esperanças tardiamente tecidas.
Os meus segredos
Eu os tenho em segredo.
Meu coração é um jardim
de flores vivas e coloridas,
Onde detenho todos os olhares
Que queiram olhar dentro de mim.
Os meu segredos?
Eu os tenho em segredo...
Renato Oliveira
Minhas palavras te amam nos sonhos
Que te buscam em tua ausência.
Elas nascem dos sentidos
Que meus sentidos guardam de ti.
E, à noite, faz-se real tua presença
Quando a mão pousa nua no tecido
Macio em que repousaste teu corpo.
O sonho é lúcida transparência,
Espelho onde se refletem
Todos os meus desejos.
Renato Oliveira
Nas tuas ausências, converso contigo
Como se ao meu lado estivesses.
Sei que longe me escutas,
Escutas minha voz a te cercar
E a te envolver e te preenchendo a alma.
Te quedas em silêncio e no teu silêncio
O amor nos possui.
Olho o céu estrelado com o mesmo sorriso
Que trazes á boca. Tu és a estrela
Distante e mais desejada do meu universo.
Renato Oliveira
Ao anjo e ao demônio me oponho;
Angelicais adornos não me cabem
E dos demoníacos poderes não me sirvo.
Não, não sou um anjo e também não sou demônio.
Só um andarilho, sem rumo, sem nome,
À procura do seu lugar nessa vida.
Renato Oliveira
Da vez primeira em que amei,
Rosa turvou meus quinze anos.
Depois, a cada amor que encontrei,
Maiores foram os meus enganos.
E estes amores foram chegando
Mas a nenhum deles me entreguei.
Nos sonhos, em doce abandono
De silêncio, o meu amor guardei.
Hoje, de todos os amores, me resta
Aquele que tardiamente vi chegar,
No outono da vida que se apressa.
Pouso suave da alma cansada e inquieta
Que não se cansou de te esperar,
Em teu amor o meu amor adormece...
Renato Oliveira
Deixa teus lábios mudos
E me entrega teu coração;
Em teu corpo sei de tudo,
Sem ti, sou apenas solidão...
Renato Oliveira
Felicidade chamou ilusão
Para o adeus do amor festejar.
Mas a saudade da paixão,
Fez a dor, de dor, chorar...
Renato Oliveira
Faça da tua luz, estrela
Que brilhe além do infinito,
Iluminando quem à distância te veja
(Assim, como eu),
Mesmo que seja com olhos aflitos
(Assim, quais os meus).
Renato Oliveira