Um monte branco
Se divisa ao longe,
Onde acorrem os peregrinos.
Procuram a manjedoura
Onde nasceu o Deus menino.
Mas porque não voltam
Seus olhos para
A manjedoura dentro de si?
Renato Oliveira
Doce jóia desce
À terra, ornada de lírios
Brancos. Trás na face
Meigos olhos, círios
Que represam o pranto,
Flores para vender na feira.
Renato Oliveira
Te busquei no mais profundoDos meu sonhos.Te encontrei no mais suaveÊxtase do meu corpo.Te amei antes, te amo agora,Te amarei no depois.E nesse amor
Feito de luz e sombras,Eu de mim nada mais sei.Renato Oliveira
Dá tua mão Ao alquebrado;Empresta tua visão Àquele que nada vê;Dá teu caminhar A quem, prostado,Não permanece na trilha;Dá tua vozA quem reclama do silêncio,E verás nele o verbo erigirOs milagres da palavra;Dá do teu amorA quem tem o coração Fechado por amarguras,E verás, então, Que criaste a vidaOnde somente havia DESILUSÃO.Renato Oliveira
Se eu soubesse,
Antes de tudo, que existias...
Se eu soubesse,
Antes de tudo, que ainda virias...
Se eu soubesse,
Antes de tudo, que contigo trarias
O amor que tanto esperava...
Ah! Se eu soubesse...
Mas...
Eu não te sabia,
Eu, apenas, te sonhava...
E agora, o que faço deste amor?
Renato Oliveira
Meu desejo de te amar
Fez-se mudo á tua presença
E se reflete na tua ausência,
Um buscar a vida e a sorte
Que nem a morte pode apagar.
Meu desejo de te amar
Vence barreiras e o silêncio
Das tuas palavras. E lento,
Persistente, faz-se tão forte
E eterno como o próprio tempo,
No infinito de ser e estar.
Meu desejo de te amar...
Conquistas centurianas do querer,
Sobraçando tristezas, desencantos,
No desencontro não se deixou abater.
Sobreviveu, renasceu, iluminando
A vida e o viver...
Renato Oliveira
Em preces fica o coração
Enquanto te perdes na imensidão
Deste mundo. Para cada passo que dás,
Te acompanham mil preces,
Suavizando os caminhos que irás pisar.
Renato Oliveira
Benditas sejam as flores
Que nos enfeitam os caminhos;
Bendita seja a luz
Que iluminam o passo tardio;
Benditas sejam as cores
Que alegram quem anda sozinho;
Bendita seja a Cruz
Que é meu consolo e meu abrigo.
Renato Oliveira
Nao quero saber de ti
Nada além do que vejo:
Os olhos, a boca, os cabelos,
Me dizem tudo que preciso
Saber. E o corpo saberá dizer
Mais do que as palavras expliquem...
Renato Oliveira
Posso ter a vida em mim
Sem jamais tê-la sentido;
Um sopro -quem sabe?- do festim
Que, por sono ou letargia, terei perdido...
Renato Oliveira
Caminho contra o vento
Pois não quero sentir meu cheiro
Quando voltar de mim mesmo
Por outros passos, estes desfeito
Pela força do tempo,
Apagando vestígios passados.
Caminho contra o sol
Pois não quero ver minha sombra
Adiante de mim, fantasma
Que ao longo da vida me seguiu,
Qual consciência viva e acusadora,
Refletindo os tormentos da alma.
Caminho em direção ao nada,
E se o nada for o infinito,
Farei do infinito o meu nada,
Onde jamais ecoou um grito,
Onde um grito jamais se apaga.
Renato Oliveira
A minha casa dos sonhos está vazia,
Abandonada. Abro a porta e lá só encontro
O silêncio e o escuro dos lugares sem vida.
Grito e chamo. Quem sabe há, ainda,
Algum sonho perdido por aqui? Mas, nada...
E eu preciso tanto de um sonho...
Um sonho só me bastaria...
Aquele em que estivesses.
Renato Oliveira
A dor,
Escondo num sorriso;
As lágrimas,Brincando na chuva.
E quem passa e me vê assim,
Há de me chamar de louco.
Mas isso importa pouco,
O que eu quero é ser feliz... Renato Oliveira
O sol que borda as dobras da janela,
Não sabe que dia o espera...
Se depender de mim,
Esta janela ficará fechada
Por toda primavera.
Renato Oliveira
Eu quero estar na vida
Não apenas como um passante,
Sem rumo e sem ideal,
Esquecido do que a vida é.
Quero estar na vida
Como um ser mortal
Que permanece após a morte
Desta capa rude e desfigurada
Nos embates do ser e viver.
Quero estar na vida
Qual uma estrela imponente,
Distribuindo luz e calor
Aos que ao meu lado seguem.
Quero estar na vida, e após ela,
Como uma bandeira a tremular
Que o mastro estacado no caminho
Avisa sobre a passagem anterior
De um ser vivente, não importa
Que tipo de animal.
Eu vou estar na vida
Mesmo quando a vida
(Assim como a conhecemos)
Não estiver mais em mim.
Renato Oliveira
Perdido na distância,
Eu, que me julgava uma doce
E alegre saudade, me descubro
Na triste realidade de não ser
Mais do que vaga lembrança,
Desbotada pela ausência.
Triste o tempo em que o vento
Não desfaz a fúria da paixão,
E o amor não trás a paz ao coração
De quem ama.
Renato Oliveira
São tantos os amores no mundo perdidos,
Que mais não lhe pesará o descambo;
Eis-me aqui, mulambo esquecido,
Pelas saudades de ti perambulando.
Deixo a noite, a vida, a saudade,
Para me acobertar no teu carinho;
Quem sabe assim, só de maldade,
Não queiras voltar ao velho ninho?
Renato Oliveira
Uma valsa...
Já faz tanto tempo que dancei
Minha última valsa.
...Uma valsa de Strauss.
...O Danúbio Azul.
Tanto tempo que nem sei
Se ainda sei dançar
Uma valsa. Valsa de Strauss...
Mulheres, moças e meninas,
Em seus longos vestidos,
Rodavam, rodavam, rodavam,
Parecendo flutuar,
Ao som dos violinos que tocavam
Uma valsa, valsa de Strauss...
Renato Oliveira
Sempre uma palavra é chegada,Quando a dor se faz mais doída.É a presença da pessoa amadaQue dá mais luz à vida.Renato Oliveira
Passam os dias tão iguais uns aos outros,
Que nem sei mais para que serve o calendário.
Acordar, levantar, tomar café, trabalhar...
Almoçar, trabalhar, jantar, dormir...
Mudam os dias, as semanas, os meses,
Acordar, levantar, tomar café, trabalhar...
Rotina. Repetência. Tudo igual todo dia.
Escravo do relógio, feitor mecânico
Da moderna escravatura, eu sou.
Preciso encontrar minha princesa Isabel
Para declarar minha abolição...
Renato Oliveira
O meu amor por ti é antigo.Por entre sonhos e esperas, eu já te pressentia.Te procurava no despertar de cada manhã, e não estavas...Te procurava em cada passo dos meus dias, e não estavas...Me banhava nas águas da chuva, pensando em te encontrar, mas não estavas...E no adormecer leve das tardes, procurava teu rosto e teu olhar. E não estavas...Te procurava no céu, entre o brilho do luar e das estrelas, e não estavas...Eu te precisava como a luz que iluminaria meus pensamentos.Eu te precisava para afastar toda tristeza do coração.Eu te precisava para afastar o frio da solidão.Eu te precisava para saber em mim o amor que me faria feliz.Eu te precisava para recuperar a coragem de continuar vivendo.Quando, enfim, todas as esperanças de te encontrar pareciam mortas;Quando todos os sonhos pareciam vãos, e eu mesmo de mim me despedia;Quando, resignado, ao carrasco insensível do tempo e do destino, me entregava,De repente, não mais que de repente, te fizeste real.Assim, de repente, surgiu o sopro de vida que me deu novo alento.Assim, de repente, renasci e me vesti de esperanças e alegrias.
Assim, de repente, como se soubesses o quanto de vida encontraria em ti...
Renato Oliveira
Não envelheças...Um pedido? Uma rogativa?Não, não pretendo envelhecer. Não na alma, não no espírito, não no jeito de ser.Mas não posso impedir que o tempo deixe suas marcas num corpo tão usado.Sou como um velho barco a cruzar rios traiçoeiros e bravios.Mesmo rangendo, este velho barco há de vencer as águas que jorram, em seu caminho, pedras, troncos ou redemoinhos.Ferem, riscam, machucam, mas não o fazem naufragar, nem desistir da travessia.E os rangidos deste velho barco, que parecem lamentos do que não foi, são, na verdade, belas e velhas cantigas de um velho e belo tempo que já passou. Mas que trazem, também, a esperança e certeza de que há, ainda, muito tempo para chegar, muitos rios para navegar, muitas canções para cantar...Não envelhecerei...Enquanto houver esse amor para me entregar;Enquanto souber do quanto há para conquistar;Enquanto conseguir sorrir para o mundo;Enquanto sufocar, dentro de mim, o egoísmo.Não envelhecerei...Enquanto houver no horizonte o sonho de um novo amanhecer, estarei navegando em busca desse novo sol.Pois quero mostrar-lhe que, mesmo à custa de muitos remendos, há muito de vida brilhando em mim.Renato Oliveira
Refaz-se a manhã dourada da existência,Nas promessas do sonho pressentidoDo amor a tirar-me a indigência.Alteou-se o sol e cruzou o dia.Murcharam as flores e novas rosas colhiPara enfeitarem o leito que te esperava.Meus olhos te buscam, e nada...Guardo palavras e gestos,E apago a luz, como num beijo.E na sonolência da noite que se avizinha,Adormeço...Esquecido de mim...Renato Oliveira
Amor(permita-me, ainda, te chamar de amor...)Se em ti guardas as palavras que te disse,E restam tênues vagas dos sonhos que tivestes,E consegues o sorriso por disso lembrares;Se em tua boca guardas marcas e o gosto da minha boca,E no teu corpo sentes, ainda, o roçar de minhas mãos,E ao lembrar destas carícias, ainda estremeces;Se destas lembranças guardas o encanto e o brilho,E és capaz de revivê-las em breves e fugidios sonhos,E refazê-las, em sonhos, tão real quanto puderes;Então, saberei que não foi em vão o amor,O amor maior em meio a todo amor que existe,E me deixarei adormecer tranquilo,
Nos braços da minha velhice...Renato Oliveira
Persigo ideais dispersos
Pelo infinito do universo,
Trazidos ao mundo pelos profetas.
Foram palavras semeadas ao vento
Não tiveram paradeiro certo
E não impediram as chagas abertas
No corpo do Cristo crucificado.
Nem o sangue daquele corpo divino
Abrandou os corações endurecidos
De homens e mulheres dominados
Pelos inimigos do amor fraterno.
Ainda ressoam os ecos do amor
E da caridade nele personificados
Mas o Cristo continua, ainda hoje,
Mais e mais crucificado...