terça-feira, 29 de setembro de 2020

Todos os horizontes...

Todos os horizontes que meus olhos esperam
Ver através das embaçadas vidraças
São como folhas secas pelo vento arrastadas,
Voando leves por sobre verdes vidas, que vicejam
Roçando suavemente os traços do invisível.

E tateiam os meu sentidos em sentir o sinal
Do mistério rondando a alma, em silêncios,
De interrogações e dilemas, vazios...

E dizer o que sinto, sem saber que o sinto,
Transmuta inhas ideias do real e palpável.
E eleva-me, em fumos dispersos, ao onírico
Ideários de sonhos apenas sonhados, ainda não vividos
Na conjunção dos sentimentos, em carícias acalentados.

E te escuto. Tua voz é o meu andar apartados
De mim, para que de ti não me perca.
Mosaicos dispersos por entre alma e coração,
Palavras e gestos mudos guardam
O olhar que se faz a canção
De paz e harmonia que ao infinito ecoam.

Ah! E esta presença sempre presente
Em horas e momentos tão incertos
E se fazem, um ou mais, excertos
Em imprecisas horas de ser-me ausente
Na solidão de um vazio deserto.

Eu quero o teu ser no meu querer,
Na flama que inflama o instinto
E em fogo vai desenhando o destino,
Deixando rastros por todos os caminhos
Que andarei, buscando teu cheiro de mulher e amiga...

Renato Oliveira

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Lembrança de uma despedida

"Perdoa-me pelas coisas ruins que fiz e que disse.
E perdoa-me, mais ainda, pelas coisas boas que não fiz e não disse".

Lesa     

FRB/SAO  - Março/1969    

Renato Oliveira            


quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Os sons do silêncio...

Os sons do silêncio
Invadem a alma.
Silêncio de vidas...
Silêncio de palavras...
E nesse vazio, a vida passa.
Lenta... Só... Invisível...

Renato Oliveira

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Estrelas...

Ah, estrelas... essa miríade de luz tão distante de mim... pairando
Em aureolada névoa, meu sonho em seu seio flutuando
Na suavidade de um abraço, de um acalanto, com aromas de paz.
Deixo-me arrastar na languidez desse momento...
Mas, meu coração pulsava em busca de um alento...
Por que, agora, essa luz mais distante de mim se faz?
E grito, me agito. E me lanço, feito raio, ao infinito,
Mas não passo de leve e breve brisa, sopro finito
Que finda-se como a luz das estrelas em céu nevoento,
Que vai, lentamente, gotas de orvalho no meu olhar tecendo,
Véu de prata que a todas estrelas encobre...

Renato Oliveira

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Ciclos...

Na ordem das minhas desordens, catando ventos vadios, colhendo perfumes de flores baldias, vou traçando meus caminhos através do tempo. 
Vou me vestindo das gentes que cruzam comigo nessas andanças - sou um pouco de cada um.
Trago nos bolsos, sempre, alguns raios de sol. Por vezes, ou quase sempre, é preciso iluminar o caminho.
Também guardo nos olhos um pouquinho de chuva, mas não uso muito, não. Prefiro misturá-la com o sol e, assim, enfeitar a vida com um belo arco-íris.
Felicidade? Sim, eu a tenho. Em cada sorriso que me recebe, no amor  que me acolheu, nos instantâneos de ser a essência Divina que me move, retratados nos gestos da vida.
Fecham-se os ciclos. Um após o outro. E sei que valeram a pena. Eu sei que vale a pena.
Por todos que me cercam. Por mim.

Renato Oliveira

sábado, 13 de junho de 2020

Vento ventou...

Vento ventou ventania
Nas bordas do tempo,
Nas curvas do dia
E, também, aqui dentro,
Bem dentro de mim.

Revirou saudades,
Levantou nostalgias,
Lembranças vazias
Que não lembrava mais.

E de toda essa agitação,
Restou, pendurado ao coração,
Um rosto, um olhar,
Retrato feito de imaginação,
A minha... Que pensava te ver,
Mas..., jamais te via.

Renato Oliveira

domingo, 19 de abril de 2020

Carícias...


Carícias...

Quantas delas recebes durante teu dia, sem mesmo que percebas...
Elas te chegam suavemente no ar que respiras, no sol que te aquece, na chuva que limpa os caminhos por onde passas.
Elas te chegam naquelas nuvens que nem percebes existir no céu que emoldura teu viver, no voo suave e graciosos das aves que enfeitam o espaço celeste.
Elas te chegam por mãos etéreas, em tácitos acordos da entrega calma e doce do teu sonhar.
Elas te chegam por palavras sussurradas ao vento, silentes, quentes, faladas à tua alma.
Elas te chegam nos acordes da canção que canta o amor, mesmo que ausente.
Elas te chegam para mostrar que longe é um lugar que não existe.
Elas te chegam para dizer que, mesmo que a vida assim queira, não haverá barreiras capazes de impedir o encontro, mesmo que de almas e sentimentos.
Elas te chegam no momento do amor, na simbiose dos afetos comuns.
Seja em um abraço, seja em um beijo de ternura, seja em um sonho sonhado a dois.
Que seja um sonho, afinal, mas um sonho que nos envolva com todo encantamento da realidade.

Renato Oliveira

A flor de cala...


A flor de cala
Guarda as queixas silenciosas,
As dores não reclamadas
E os sentimentos mudos
Vividos nos caminhos do nada...

Renato Oliveira


sexta-feira, 17 de abril de 2020

Girândola de cores...


É um menininho diferente,
Diferente de todos os outros meninos.
Vive sorrindo, sempre contente,
Vive contente, sempre sorrindo.

E tudo nele é colorido, como se, de gala,
Sempre vestido estivesse.
E, espanto!, até mesmo sua fala
De muitas cores se veste.

Se ele fala do sol, de seu brilho,
De sua boca, a dançar, o amarelo sai,
Em letras errantes como andarilho,
Que, abraçado ao vento, se vai.

Quando, então, ele do céu alguma
Coisa diz, é de azul que sua boca se pinta,
Como se, numa travessura,
Mergulhasse em um balde de tinta.

Ah! Mas, quando ele diz - olha o verde!
Cada letra parece até uma alface,
Sendo cada folha uma face
Daquele molhe de verdura verde.

E assim acontece com todas as cores,
Quando, uma a uma, ele as diz.
Ou ele é um jardim de muitas flores,
Ou, então, engoliu o arco-íris.

Mas há uma de que ele gosta muito mais.
Parece invisível, poucos a veem;
É o branco que lhe inunda de paz,
E faz todas as outras viverem.
Renato Oliveira

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Amo...

Amo.
Amo esse amor que se dá
Por querer se dar,
Sem temer, sem pensar
No amanhã que virá
E no que possa trazer

Amo.
Amo esse amor que se dá
Sem os extremos da paixão,
Mas entrega o coração
Em doce prazer de amar
E o amor, docemente, viver.

Amo.
Amo esse amor que se dá
Esquecido das dores e das mágoas,
Que em meus braços deságua
A tranquilidade desse mar
De amor que tens a oferecer.

Amo.
Amo esse amor que se dá,
Amo esse amor que me tem,
Amo esse amor que me vem
Do teu viver, do meu sonhar,
Mesmo que seja sem querer
Amar...


Renato Oliveira

Mensagem para Ana Sofia...


Para você, menina, uma palavra amiga. 


Não se trata de uma “conclamação aos jovens”, ou coisa que o valha. É, apenas, algo ditado pelo coração, para quem tem um grande coração.

Sei, e sabemos todos, que viver é uma arte. É preciso mais do que a simples formação acadêmica, do ensino clássico das ciências.

Preciso é trazer no coração a semente do amor, da bondade e do desprendimento.

E, por natureza própria, conhecer a natureza humana, suas incoerências e incertezas, suas falhas e acertos, perdoando e aceitando as pessoas como são.

É saber que as dúvidas existem justamente para nos ensinar a discernir sobre o certo ou errado.

É doar-se a quem necessita de amparo; é abdicar, quando esta renúncia significar a felicidade para outras pessoas.

É lutar pelos seus ideais, cuidando que nesta luta ninguém saia ferido.

É sentir-se livre para chorar e sofrer por aqueles a quem se ama.

É cultivar os sonhos, e, se possível, faze-los reais

E é nesta fase da tua vida que te digo: sonha, menina, sonha teus sonhos de criança, assim como um dia eu já o fiz. Pois que neste mundo onde os homens se debatem em busca de um caminho único e definitivo, onde o longe é perto e o perto é longe, o que vale é o sonho.



Rio, 1983.

Renato Oliveira

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Eu nada deixei de mim no passado...


Eu...
Eu nada deixei de mim no passado.
Eu nada esqueci de mim no passado.
Abro a porta. E um ar com cheiro de novo
Enfeitando com sorrisos tantos
Dos teus encantados encantos
Era, ainda, o mesmo encontro
No tempo mesmo de te rever
Presente em todos os meus sonhos,
Brincando de fugir aos meus intentos,
Volitando em torno ao vento
Que me leva a te encontrar...
Eu nada deixei de meu no passado.
Estás comigo, aqui, agora, sempre...

Renato Oliveira

domingo, 26 de janeiro de 2020

Crepúsculo...

Seis horas da tarde...

Hora do Ângelus...
Hora da Ave-Maria...

Hora que me vem essa saudade
Que me toma e acaricia
Qual fosse a filha dileta
Chegada em hora tardia,
E, lépida, se presta 
A aliviar-me a alma vazia.

Seis horas da tarde...

Hora do Ângelus...
Hora da Ave-Maria...

Na penumbra da idade
Não guardo sonhos ou fantasias
De que te faças, outra vez, a realidade
Que deixou marcas na cama,
Na vida, na carne.

Repiques de sino ao longe, numa
Distância que me foge saber onde...
E como um andejo que se desfuma
Na estrada, em meio ao que me conduz,
Sou-me minha própria cruz...
Da vida, o fim em agonia...

Seis horas da tarde...

Hora do Ângelus...
Hora da Ave-Maria...

                                                                                                                                    Renato Oliveira.