domingo, 29 de novembro de 2009

Africa...

AFRICA.
Mãe negra de filhos famintos,
Abrigas cadáveres nos ventres
Das tuas mulheres.
Da raça negra, daquela tua gente
Exilada pelo mundo sob o açoite
Da chibata, semeias, hoje,
Túmulos por filhos que não nasceram
Por filhos que não cresceram,
Por pais e filhos que não viveram.

AFRICA
Mãe negra da fome
Que corre por tuas terras
Levando em suas garras
Seres desfigurados pela fome
Que se arrastam feito animais
Febris, em convulsões mortais.

AFRICA
Grita, te agita,
Mostra ao mundo
Esta tua cara faminta,
A miséria em que te deixaram
As guerras, as ambições.
A exploração desenfreada
Das tuas riquezas. Do africano.
Mostra aos poderosos das grandes nações
Que também fostes o berço da humanidade.
Que mereces, também, um pouco de piedade.
Por tuas crianças descarnadas.
Por teus velhos de olhos saltados de fome.

Por tua gente que morre, morre, morre...

Renato Oliveira

Não feche seus olhos...

Don’t close your eyes
For the world that was received,
Because…
Eu sou o vento
Que agita os teus cabelos,
A brisa que acaricia teu rosto,
O sol que aquece teu corpo,
A chuva que chora
Tua tristeza.
Eu sou a luz das estrelas
Que velam por teu sono,
O luar que acalenta teus sonhos,
A noite que encobre tuas dores.
Eu sou o perfume das flores,
O cantar de um passarinho,
A sombra acolhedora do caminho.
Eu sou o amor.
Só!


Renato Oliveira

Para minha mãe...

Nascemos dez. E crescemos nove
Por graça da vida que se fez morte,
Indiferente aos apelos de quem sofre
Por ver rompida a corrente da vida.
E crescemos nove por caminhos retos,
Sob a égide de doces olhos maternos
Que a todos vigiava e dava acolhida
Nos infortúnios trazidos pela sorte.
E crescemos nove por conta própria
À custa da conta que já viera quitada
Na figura meiga que se desdobrava
Para ver suas crias alçando vôos maiores,
Em busca da própria trajetória.
Crescemos nove e hoje multiplicados,
Paramos e olhamos para trás,
Buscando no exemplo de tuas ações,
O espelho em que possamos nos mirar
Para sermos tudo o que fostes por nós.

Obrigado, minha mãe.
Deus lhe pague.


Renato Oliveira

Menino de rua...

Passo a passo, dia após dia,
Teu destino se forma e evidencia
Nos traços que traçam tua agonia
Nesse teu estranho viver.
Órfão da vida na vida que te acolheu,
Das tuas origens não guardas o sabor,
Não provastes o gosto de ser filho, irmão,
De dar e receber amor.
Te acostumastes ao frio das ruas,
Teu agasalho é o jornal que te noticía.
E nas longas madrugadas de solidão,
O medo é tua única companhia.
Perambulas pela cidade, destino incerto,
Em busca da migalha que de algum prato caia,
Que de mão dada nada recebes de quem passa
E te olha com olhos em estranho objeto.
Pensando enganar a fome e a vida,
Viajas nos sonhos forjados da droga maldita
Que te engana e te abre maiores feridas,
Mais na alma do que no teu próprio corpo,
Já marcado pelas dores do desconforto
De seres pária no teu próprio meio.
Aprendiz no duro jogo da sobrevivência,
Estás nele a batalhar por tua existência,
Sem saber por que e a que veio.


Renato Oliveira

Introspecção...

As idéias se confundem em minha mente.
Hoje sei que eu sou eu, me conheço. Reconheço.
Do passado me encontro em profunda ausência.
Mas, e amanhã? O que serei? E o que será
Da vida de que hoje tenho consciência?
Em vários momentos, em minha cabeça,
A idéia de que se outra pessoa fosse,
Outras seriam minhas atitudes.
Mas, se outro fosse, não seria eu
E, portanto, nada saberia de mim.
E por não saber de mim, como saber,
Então, a diferença entre um e outro viver?
Se desse eu de que tenho conhecimento
Surgisse uma centelha da vida vivida
(um dia, um século, um milênio, quem sabe?)
Poderia me ver como outro sendo,
Não a imagem no espelho refletida,
Imagem por vaidades distorcida,
Mas a verdade do fato consumado
Nos meus próprios olhos que estão me vendo...


Renato Oliveira

Carta à minha irmã...

Sei que tenho lembranças. Se tu as tens, não sei.
E isso não importa. Importa é o que eu sinto.
E, hoje, mais ainda, elas me vem da forma mais cruel.
Longe, nas horas do sul, tempo e vida se conjugam.
As lembranças são nuvens que passam
Sem que ninguém erga os olhos para vê-las.
Não importa que cubram as estrelas,
Não importa que chamusquem o céu
Colorido de todos, todos os dias.
São nuvens que passam, simplesmente,
E eu continuo a existir, todos os dias,
Mesmo que ninguém se de por isso.

Rio/RJ-Natal de 1999.
Renato Oliveira

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Estranha vida...

Estranha a vida...
Arrastou-me por caminhos que jamais suspeitava, promoveu encontros que, a mim, nada diziam e juntou-me a vidas, à minha vida, tão estranhas...
E resolveu premiar-me, por minha resignação, com uma jóia trazida do céu e colocada em meus braços.
E dediquei-me aquela jóia. Cuidando, polindo, para nela encontrar o brilho que em mim havia perdido.
Ah! Com que prazer me dediquei a essa tarefa. Prazerosa, não provocava cansaço ou exaustão. Poderia ficar dias e noites insones sem que disso me desse conta, tal o encanto que me provocava.

Estranha a vida...
Assim como colocou em mim essa jóia, um dia resolveu tomá-la de volta.
Sem prestar contas, sem se dar conta que ali estava um pedaço meu, que nela já havia deixado grande parte do que me conhecera.
Era um pedaço do meu corpo que também se ia.
E era minha alma que se desfazia. Como se fora um sonho que se despedaça ao despertar. Não existe mais. Ficam só lembranças.
Por longo tempo, me fez experimentar o amargo de sofrer por essa perda, vestiu meu coração de luto, apagou o brilho que mal havia começado a me iluminar.

Estranha a vida...
Um dia, quando nada mais esperava, se não o fim já anunciado desde o meu primeiro minuto; quando não via mais sentido para nada, outra jóia faz surgir na minha vida.
Um novo tesouro, que surgiu feito um clarão na escuridão de minha noite que se fazia eterna.
Mas não foi o clarão de um raio, que risca o céu da noite e se vai.
Era luz. E vinha para ficar.
Uma luz tão forte, tão intensa, que desvestiu meu coração do luto que teimava em manter e vestiu-o com as cores de uma nova esperança, com as cores brilhantes e luminosas do amor. Essa luz soube guardar e respeitar minhas lembranças, fazendo-as mais doces de recordar.
Assim, de repente. Não mais do que de repente.
Do amor em sonhos suspeitado, à realidade do amor em verdade transformado, transmutando toda vida.

Hoje tenho dois anjinhos que cuidam de mim.
Um, lá no espaço celeste, de onde, tenho certeza, me cobre com todo seu carinho e suas preces.
Outro está aqui, junto aos meus passos, velando por mim, olhando por mim, fazendo desse meu viver algo que valha a pena ser vivido.

Mas, essa estranha vida...
Me assusta, me dá medo.
De que resolva, outra vez, brincar comigo e me tomar esse tesouro com que enriqueceu a minha vida.
Estará ela, essa estranha vida, coroando todos seus esforços para mostrar-me que suas forças são superiores às minhas.
Ela, essa estranha vida, tem todo o tempo do mundo a sua disposição.
Eu não tenho mais tempo nem idade para brincar de amor...

E eu preciso desse amor que agora me tem.
Eu não tenho mais tempo de esperar o momento para ser feliz...

Meu momento e lugar de ser feliz é agora, no coração do meu amor...


Renato Oliveira

sábado, 21 de novembro de 2009

Trovas

As vestes encobrem pudores
De pessoas sem pudor nenhum.
Porque não se vestem de flores
A nudez dos olhos de cada um?

o-o-o-o

Sombras ou sonhos, o que somos?
Se de nós não temos vestígios
Pegadas que nos conduzam ao que fomos,
Como pensar que somos os eleitos do Divino?

o-o-o-o

Quando era assim, de brincadeira,
Tu fingias me amar;
Mas a paixão chegou por inteira
...E não quisestes mais brincar.

Renato Oliveira

sábado, 14 de novembro de 2009

Ama...

Ama.
Mas não faça do teu amor a vida de dois amores.
Não caberão, em teu único mundo,
De dois, todas as dores.

Ama.
E deixa, entre ti e teu amor, a suave sensação
Do encontro desejado, da espera não satisfeita
Dos dias em que não estão.

Ama.
Mas não faça do teu amor a guante
Que há de sufocar e matar o amor
Pelo excesso do que chamas amor.

Ama.
E aprecia esse amor
Com a mesma delicadeza com que degustas um vinho,
Sentindo-o em todas suas nuances de cor e sabor.

Ama.
Não na brevidade do tempo que conheces,
Mas na eternidade da vida que amanhece
E em ti vem se descobrir.


Renato Oliveira

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Porque choro...

Porque choro?
Choro porque amo e o amor está ausente.
Choro por ser só, e só, ser saudade
No corpo inteiro. E a lágrima acalma,
É como se estivesse lavando a alma
De todas amarguras que me tomam
A cada lembrança que se faz presente.
Choro, sim, sem medo ou vergonha,
Pela morte dos sonhos que se foram,
Os castelos erguidos por quem sonha
Vida e desperta solidão.


Renato Oliveira

Eu não existo...

Eu...
Eu não existo...
Façam de mim uma visão,
Algo que surgiu no clarão de um raio,
Apenas ilusão.
Eu não existo...
Não passei de pressentimento
E me tomaram por real...


Renato Oliveira

Na alameda das horas...

Na alameda de horas formadas, eu sigo...
O relógio aponta uma hora no tempo parada.
O tempo persegue as horas que virão...
E eu corro atrás de minutos que se foram...
E acabam, ambos, tempo e horas, me engolindo...

Na réstia de sol que ainda resta iluminando
Um pedacinho de céu, há brilho...
E nesse brilho, quanto há Deus?
O quanto será Deus?
Ou será só isso que de Deus tenho conhecido?

Tateio em busca dos sonhos perdidos
Em horizontes hoje longe de mim...
Lá, bem distante, o sol declinando,
A claridade do dia levando,
Apenas mais um, no rumo do fim...


Renato Oliveira

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Saudade é o amor que fica...


(Livremente baseado no texto do dr. Rogério Brandão)


Nas tramas silenciosas do destino,
Onde vidas apenas se suspeitam
Sem jamais se terem visto,
Dois sonhos errantes se encontram.
-E se faz o amor!

Iluminado por um beijo de luz,
Mostra-se vida, força e esplendor...
E todo desejo contido na alma.

Na silenciosa ausência do amor,
Nasce uma lágrima.
Que vive nos olhos de quem ama,
Nos olhos tristes de quem chora
O vazio que a tudo devora.

Amor e saudade dão-se as mãos
E seguem no coração, sempre unidas,
Alimentando esperança e ilusão.

- A saudade é o amor que fica...


Renato Oliveira