domingo, 25 de outubro de 2009

Em ti...

Em ti me reconstruí... Lentamente
Me refiz de vida, me vesti a túnica
De bodas abandonada e renitente.

Em ti plantei as flores do amor presente,
Amor futuro, em tua fronte úmida
Brilhando cores e um olhar perene.

Em ti a entrega se fez consciente...
Sabendo-me não a emoção súbita,
Mas a certeza do eternamente.


Renato Oliveira

sábado, 24 de outubro de 2009

Se tens amor...

Se tens amor,
Tens o céu,
Uma torre de babel.
Se não tens amor
E vazio é teu leito,
Então o que será feito
Desse teu olhar
Tão aceso?

Renato Oliveira

Um dia pedi à Deus

Um dia, pedi à Deus para não crescer.
Queria ser igual a Peter Pan...
E Ele me atendeu...
Não cresci.
Mas o meu corpo não entendeu
Ou esqueceu do meu pedido...


Renato Oliveira

Quando era criança...

Quando era criança e queria sonhar,
Bastava-me olhar as águas do Guaíba.
Diante daquela imensidão de águas
Ao meu olhar de menino,
Pensava:
Todos os mares teriam o tamanho Guaíba...
Todas as cidades nasceriam da minha cidade...
E me dava um medo do tamanho do mundo!

E hoje tenho medo do tamanho dos sonhos...

Renato Oliveira

sábado, 17 de outubro de 2009

Quisera, um dia...

Quisera, um dia, me ver
Pelos olhos que me vêem
E medir toda minha
Incapacidade de entender
Esse espanto que causo
Simplesmente por querer.
Sim, por querer, gostar
De quem me é caro
Por amor e sentimento,
Indiferente à recíproca.
Não é da lei?
Não estão nos escritos
As palavras daquele homem,
O Cristo,
Que nos manda amar,
Amar, amar...?
Assim eu o faço...
Porque, então, o espanto?
Foram as leis derrocadas
Ou não somos mais humanos?

Renato Oliveira

Vago pelo espaço...

Vago pelo espaço
Infindo das buscas,
À procura do encantado
Momento em que me darei.

Venho de lugares
Que não me sabem,
Trago no olhar os luares
Dessas terras; Nas mãos,
Rosas colhidas para ti, amada,
Aos pés dos cadafalsos
Dos sonhos em que mergulhei.

Toma, agora, dessas rosas
E tece com elas a oração
Que se grava na alma
E se faz eterna aliança
De corpo, alma e coração.

Renato Oliveira



Salta, gira, se contorce; Busca vida,
Se embaralha. Lança preces ao infinito
Mas não alcança a mão amiga...
Deus! Deus! Porque não ouves meu grito?

De que me adianta, então, estar aqui?
De que me servem essas parábolas,
Se à todas elas, crente, segui,

Sorvendo-as com fé, palavra por palavra,
E me vejo no mais profundo e escuro
Poço das amarguras? Ah, Pai, basta teu querer...

Renato Oliveira


Parte do teu olhar...

Parte do teu olhar
Um raio que perspassa
A noite na vidraça
E vem me iluminar,
Clareando todas as paredes
Que teimam em me cercar.
Prisioneiro dos meus medos
E minhas ansiedades,
Quero tua liberdade
De movimento de braços
E pernas, desbravando segredos
E mitos enquistados em mim.

Renato Oliveira

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Qualquer dia...


Qualquer dia, sairei pelas ruas
E irei caminhar meu destino
Através dos dias, das noites, dos dias...
Meus pés estarão cansados
E marcados pelo calor dos passos
Dados nessas estradas
Onde se perdem a horas
Tentando chegar a lugar nenhum.
E minha alma estará vazia...
E voltarei por estes mesmos passos,
Pegadas nas areias do tempo,
Similar ao ir e vir das ondas,
Uma após outra, sem nascer, sem morrer,
Mas existindo sempre,
Uma após outra... Vida...

Renato Oliveira

Estou cansado...

Estou cansado. Da vida e de mim.
Cansado dos meus erros, dos enganos,
Dos encontros e muitos abandonos,
Coisas que não consegui corrigir.
Meu caminhar, sempre trôpego,
Não trouxe, a quem pretendia,
O sorriso que imagina sorrir.
Nos gestos, nos afagos, nas palavras,
Mão e lábios não conseguiam traduzir
A emoção que em minha alma passava.
Desse amor restarão lembranças,
Imagens que o tempo não apaga,
Memória viva a embrasar a alma,
Na dor de se saber sem esperança.
O futuro que sobre mim avança
É a noite eterna dos deserdados,
Feita de névoas e de sombras...

Renato Oliveira

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Da vida, do viver...

Quando encontrei a vida, pensei comigo: “agora, posso viver.”
Mas que nada.
Estava ela tão ocupada em resolver questões políticas, que passou por mim sem perceber que a estava esperando.
Passou e se foi. E nunca mais voltou.
Fiquei ali, sentado à beira da existência, espiando tudo que acontecia ao longo do tempo que por mim também passava, mas não me tocava.
E vi surgirem filósofos, doutores da lei, doutores da medicina, doutores da arte, doutores do saber.
E cada um trazia consigo a verdade que parecia ser a derradeira, a definitiva, para explicar a origem do mundo, das gentes, do universo.
Dúvidas? Claro que as havia. Mas eram tão insignificantes que não poderiam nublar pensamentos tão elevados, eivados de tanta sabedoria.
Então, eram deixadas de lado, os intelectuais, apressados em não se mostrarem ignorantes do que não sabiam, as engoliam por medo do ridículo da pergunta que era óbvio perguntar.
E assim, na prospecção de verdades sobre origens e destinos, a cambaleante humanidade se perdeu das palavras que um dia trouxeram essa verdade para todos.

Persigo ideais dispersos
Pelo infinito do universo,
Trazidos ao mundo pelos profetas.
Foram palavras semeadas ao vento
Não tiveram paradeiro certo
E não impediram as chagas abertas
No corpo do Cristo crucificado.
Nem o sangue daquele corpo divino
Abrandou os corações endurecidos
De homens e mulheres dominados
Pelos inimigos do amor fraterno.
Ainda ressoam os ecos do amor
E da caridade nele personificados
Mas o Cristo continua, ainda hoje,
Mais e mais crucificado...


E a humanidade deixou de ter vida. Passou a existir, tão somente.
Por se perder a humanidade, fiquei eu também perdido.
Tento entrar na vida pela porta da frente, mas nunca a encontro aberta.
Procuro por alguma janela, seria também uma forma de estar nela.
Mas não consigo.
Bom, de tudo isso me resta um consôlo.
De saber que em mim pulsa a coerência dos loucos, esses que fogem às regras da civilização mais selvagem que poderia habitar o planeta, coerentes em sua incoerência de viverem a vida real que pulsa no seu íntimo.
De saber que existem os poetas, esses que não explicam porque o céu é azul, mas o fazem mais bonito com suas palavras na emoção dos sentimentos.
De saber que existe o amor, esse que faz tudo valer a pena.
Até viver.

Olho a vida com meus olhos
E não importa com quais sejam
-Se de susto ou de espanto-
Os olhos com que ela me veja.

Só não quero ser visto
Em nenhum jornal estampado
Num daqueles retratos 3x4,
Onde se fica de frente e de lado,
Numerado e datado,
Uma placa no peito pendurada,
Feito mercadoria ofertada.


Renato Oliveira

domingo, 4 de outubro de 2009

Trovas...

Do amor, quem o sabe, não o diz;
Quem não o sabe, vive dizendo;
Quem o vive, segue amando;
Quem não o vive, é um infeliz...

o-o-o-o

Quem se diz feliz por inteiro,
É uma de duas verdades:
Ou é lume que anima o candeeiro
Ou jamais conheceu felicidade.

Renato Oliveira

Tempo passa...


Tempo passa, passa o tempo
Plantando e colhendo vidas.
E de todas minhas vidas
Só restaram fragmentos,
Gemidos de viola sem lua,
Perdidos por qualquer rua,
Atados aos pés do vento.
Renato Oliveira

Deixastes correr a lágrima...


Deixastes correr
A lágrima
que não pudestes conter
No teu íntimo.
E eu me fiz, num sorriso,
A brisa que veio colher
No teu pranto,
Amor e luz,
Dor e vida.


Renato Oliveira

Estrela guia...


Teus passos são meu guia,
A orientar-me em noite escura;
Teus olhos, fonte de água pura,
Bálsamos da sede, me saciam;
Tua boca dita meus rumos
Pelos descaminhos deste mundo.
Como vês, sou teu dependente,
Feito criança carente
De todos cuidados maternos...


Renato Oliveira

Por onde vou...




Por onde vou,

Nem sei mais.

Apenas me vou

Por caminhos desiguais,

Que hão de me levar

À lugar nenhum.

Apenas mais um

A cruzar vidas,

Sem ser, sem viver.

Pois, que de onde venho,

Também já não me sei.



Renato Oliveira

sábado, 3 de outubro de 2009

Lingua de trapo...

Quem, nessa vida, nunca foi vítima daquelas pessoas que adoram falar da vida alheia?
Quem nunca sofreu por calúnias espalhadas e jamais comprovadas?
Quem nunca viu seu nome envolvido em fofocas de pessoas sem escrúpulos, sem o menor respeito pelo ser humano?
À estas pessoas que se comprazem em infernizar a vida alheia, eis o meu tributo.

Língua ferina, maltrapilha,
Envolve com veneno vidas alheias.
Não vale mais que uma casquilha
quem, com intrigas, a outros golpeia.

Língua comprida, não boca não se mantém.
Bate a todo instante, insatisfeita,
Por maldade ou inveja de quem
Às suas intrigas não se sujeita.

De tanto dançar entre os dentes,
Um dia ainda há de se morder,
Sentindo em seu corpo escorrer
O sumo do veneno de serpente

Ferindo-a como à tantos já fez.
Talvez, então, tome jeito,
E abandone essa prática nojenta
De falar mal de tanta gente.

Renato Oliveira

Poesia não é...

Poesia nem sempre é rima
Palavra por palavra.
Pode ser dor ou, então, sina,
Ou um amor que nunca se acaba.

Pode ser a tormenta benfeitora,
O sol que aquece e anima,
Ou mesmo a súplica redentora
Prece que acalma e ensina.

Pode ser a paz volejando
Tranquila, nas asas da branca pomba,
Ou a guerra, maldita, sangrando
A vida inocente que tomba.

Mas deveria ser, tão somente,
Um barco de velas flanadas,
Singrando os mares do pensamento,
Cantando a vida, o amor e mais nada.

Renato Oliveira
Sonhei que caminhava por caminhos situados
Entres as montanhas de um país distante,
Quando, ao longe, avistei um aglomerado
De pessoas em silêncio. Ao meio deles,
Havia um homem que lhes falava docemente.

Ao me avistar, dirigiu-se à mim.
E, pousando a mão suave
Por sobre meu ombro, disse-me:
"Abandona esse tédio lasso,
Vai e entrega-te à lida sincera.
Vê, ao longe, o cadafalso?
É o destino daquele que espera
Em orgia e gozo, o fim que não virá.
Formarão imensa caravana
De andrajosos peregrinos,
Arrastando tesouros mundanos
Frutos do orgulho e do egoísmo,
A pesar-lhes a alma e o destino.
Suave é o caminho daquele que ama
E se entrega, sem medo, à doce missão,
Sublime dever, de retirar da lama
Que, pelo desamor, tem fechado o coração."

Renato Oliveira