domingo, 30 de agosto de 2009

Da saudade...

Saudade
É um momento no tempo parado,
É um despertar muito tarde
P'rá vida que já passou.

Saudade
É o avesso da vida,
É olhar por dentro a ferida
Deixada por quem partiu.

Saudade
É a dor que se canta,
Nos olhos a lágrima que brilha

Na esperança que nunca morreu.

Renato Oliveira
Foi um dia, uma noite
Que não queria mais lembrar,
Mas continuam, feito um açoite,
Sempre a me vergastar.

Doía o corpo e os olhos cansados
Refugavam o repouso, por atenção
A quem merecia os cuidados
E ajuda por minhas mãos.

“Descansa, pai, que eu também
Vou descansar”. Estas palavras
Soaram como convite do alem
Para poupar-me a alma

E o coração de enfrentar,
Como de há muito esperava,
O desfecho daquela batalha,
Angústia que me atormentava.

E agora, a cada data festiva,
Sinto mais ainda a ausência
De quem era luz e vida
Na minha vida. Ausência

Que se faz tão maior quanto
Passam os dias e os anos
Que nos separam. De tantos
Erros, tantos enganos,

Foste tu o escolhido.
Porque, não sei. Talvez
(Quem sabe?) eras o anjo mais bonito
Que havia de enfeitar o céu...


Renato Oliveira

Eternos viajantes...

Foram tantos os caminhos percorridos,
Tantos os passos por esta vida itinerante
E a nada cheguei...Simplesmente perdido...
Tão perto do nada e de mim tão distante...

E a cada dia que tenha amanhecido,
Meu sol já não se mostrava tão brilhante.
Ecos de um passado no tempo perdido,
Das fantasias em sonhos farsantes.

Quero voltar, não posso...Não consigo
Me ver do modo que me via antes,
Passageiro humilde da vida passante,

Rascunho de gente ao espelho refletido.
Me deixo arrastar, neste viver esquecido,
Pelas trilhas eternas de eternos viajantes...

Houve um tempo...

Houve um tempo
Em que o tempo não contava
E a juventude me parecia eterna.
No entanto, a vida continuava
A criar os sonhos com que me cerca,
Preparando o derradeiro ato.

E ao fim desse espetáculo,
Cortinas fechadas,
O que se verá caído, a sós no palco,
É a marionete de cordas rompidas,
Sem vida, sem público, sem aplauso...


Renato Oliveira

Não precisava não...

Não precisava, não,
Passar assim, tão rápido,
Como um acenar.
Poderias ter ficado um pouco mais,
Pra gente se conhecer melhor,
Se dar melhor.
Não precisava, então,
Tantas promessas de vida,
Tantos sonhos contidos.
Poderias ter ficado mais um pouco,
Pra iluminar mais um pouco
O meu caminho.
Trazer novos horizontes,
Me ajudar a transpor a ponte
Que nos levaria por novos desafios.
Precisava, não, partir
Sem um adeus,
Sem uma palavra sequer.
Poderias ter me avisado
Que já havia terminado
O caminho que tinhas que percorrer...


Renato Oliveira

Estranha sensação...

Que estranha sensação é essa que me toma,
Que visão é essa que me assoma
Sempre quando aqui estou?
O que queres me dizer com essa insistência
De brincar com minha consciência,
Fazendo-me crer no que não sou?
Não me vês, pelo mundo, arredio, assustado,
Sem notar quem anda ao meu lado,
Esquecido, até, por onde vou?
Por que me fazes vir a tua casa,
Servir-me de todas tuas graças
Sem que disso me sinta merecedor?
Por que me mostras agora essa chama,
Luz que ilumina e as mãos inflama
E que em mim nunca brilhou?
Ah, Deus... Que caminhos são estes que me destes,
Que mistérios em mim tecestes
Com os fios de ouro do teu amor?


Renato Oliveira

Bem que podia...

Bem que podia
A vida parar um momento
Nos sentimentos da paixão,
Na reflexão das atitudes,
Das virtudes, das verdades
E saudades, que machucam
E maltratam. Da mentira,
Do ódio e da ira no coração.
Na mão, o aceno,
O olhar sereno de quem vinha
E tinha o amor para dar,
Sem cobrar do amor
O favor da devolução.
Deixa, então, a vida que corra
E morra em paz a alma,
Na calma da brisa leve
Que a eleve acima
Das nuvens brancas

Que enfeitam o céu.

Renato Oliveira

Samba enrêdo II - Os cristais


Baila no ar doce harmonia
-luz, terra e mar-
Que a Foliões vem mostrar
Em forma de poesia.

Contam lendas antigas,
De pedras misteriosas
Do espaço à terra trazidas
Num dilúvio de cores radiosas.

Chegam em naves silenciosas
Do país ignorado da beleza,
Onde pairam formas vaporosas
Do espírito da natureza.

Espalham-se pela terra,
Invadindo as florestas
Da Ásia, Américas e Oriente,
Da Atlântida e Lemúria,
Por essas pequenas criaturas,
Os duendes.

Vou ao mar,
Banhar meu coração na luz da vida,
Afastar o mau olhado,
O quebranto e a mandinga.
Renato Oliveira

Samba enrêdo I


Na década de 90, durante alguns anos, parte da minha família (irmãos e cunhados) estiveram envolvidos na direção da escola de samba Foliões do Quintão.

Em duas ocasiões, uma de minhas irmãs, que era responsável criação das fantasias e alegorias da escola, pediu-me para escrever o que seria uma letra para o tema que a escola apresentaria.

Decidi arriscar. E aceitei.

Na primeira, uma viagem pela Amazônia, fauna, flora e minerais.

Na segunda oportunidade, um mergulho nas lendas que contam as origens dos cristais.


No coração
De um beija-flor,
A Foliões do Quintão
Viaja pela Amazônia.
Desbravando a floresta
Hoje vem fazer a festa
No carnaval desse rincão.

Entre orquídeas e begônias,
Num colorido desfilar,
Das lendas, o mistério
E os segredos do rio-mar.

Do amor de Naia à lua,
Nasce a uapê que flutua
Nas águas do igarapé.
E o boto rosa vem à rua,
Faz-se o homem que procura
A virgem para ser sua mulher.

Dentre as riquezas,
Os minérios
E as plantas medicinais,
Razão maior de cobiça
Do grupo dos “7 mais”.

É no verde desta mata,
Nas riquezas deste chão,
Que a natureza vive e exalta
O poder da criação.

E o índio, da terra nativo,
Nas lutas pelo seu chão,
Vê morrer sua tribo
Em nome da civilização.

Os animais, em livre viver;
Os pássaros, sinfônica orquestra
Que a vida na selva desperta
A cada novo alvorecer.

Rola água, rola rio,
Vai ao encontro do mar,
E volta nas águas das chuvas,
Trazendo a vida no ar.


Renato Oliveira

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Amar é tão simples...

Amar é tão simples,
Tão sem formalidades,
Que esquecemos esses detalhes
E criamos mil obstáculos.
Amor é amar tão somente,
Não importando o momento,
O vizinho do lado,
Se é dia ou é noite.
Basta amar que desaparecem
Todos esses inconvenientes,
De prestar atenção ao que se faz.
Ame.

E esqueça o resto...

Renato Oliveira



Leda O. G.

Esta é uma homenagem que faço a uma de minhas irmãs, Leda, desencarnada em 2003.
Um acróstico, onde a primeira letra de cada verso forma seu nome. Para ficar gravada em mim.
Sempre me incentivou a escrever, independente do que eu mesmo pensava a respeito dos meus escritos. Elogiava, estimulava, acariciava meu ego com palavras sempre boas e bonitas.


Lembrança guardada pelo tempo,
Estas em mim sempre presente.
Dos teus olhos, mesmo que distante,
Arde a chama em corpo ausente.

Oráculo de minhas preces,
Lanças à alma um fio de esperança
Imanente à saudade que me segue,
Vergada ao peso de tua ausência.
Em tantos caminhos que se busca
Impossível é esquecer o que passou
Refletido pelo brilho de uma estrada
Através da vida que a vida levou.

Gosto amargo de se saber tão longe
Onde o sonho da volta se dispersa,
Mergulho sem volta alem do horizonte.
E sigo nos caminhos desse mundo
Sem saber de ti, ou de nos, o que resta...


Renato Oliveira

Da esperança...

Quem espera
Alcança?
Ou apenas se cansa
De tanto esperar?
E quem alcança
A espera,
Perde a esperança
De voltar?
E quem volta?
Descansa
A esperança
Na certeza de alcançar?
E na volta da esperança
Será que alcança
O que não cansou
De esperar?
Esperança – espera longa demais
Para quem cansou de sonhar
Mas, voltar – jamais...


Renato Oliveira

Cruzeiro do Sul...

Em noite escura, luz reclusa,
Busco no céu o meu guia,
O Cruzeiro que ao Sul me conduza.

Quanto eu sonho
De um dia voltar a estes pagos,
Sorver meu mate amargo
E correr livre por esses campos,
Peito aberto a entoar meu canto,
O vento como companheiro.

-E nos braços do minuano
Ver nascer a vida e a canção
Nos olhos tristes de solidão.

Quanto eu penso
Em rever o meu Guaíba
De águas mansas beijando a areia,
Colar de prata enfeitando a cidade
Em noites claras de lua cheia.
Um colorido que encanta e fascina
No por do sol, aos finais de tarde.

-Praia de Belas, Assunção, Ipanema,
Manhãs de primavera tão serenas,
Outono, inverno, verão.

Quanto eu lembro
Das noites de junho, tão frias,
Aquecidas pelo calor de uma fogueira.
Santo Antonio, São João, São Pedro...
Alvoroço das moças casamenteiras,
Buscando a sorte nos jogos, nas simpatias.
Tantas promessas, tantos sonhos, tantos segredos...

-E o frio que corta o coração,
É todo saudade,
Não tem minuano, não.

Quero voltar
A navegar a lagoa dos sonhos,
Refletindo no sereno espelho d’água
A imensidão azul desse céu.
Que espanta a tristeza e a mágoa
De quem traz no peito o sonho,
Da volta ao lar que sempre foi seu.

-Tremulam, ainda, em águas profundas,
Os sonhos naufragados
Nos mares de uma vida revolta.

Se eu soubesse da vida
O que pensava saber de mim,
Hoje não estaria assim,
A chorar saudades tão sofridas,
Saudades tão antigas,
Quanto o desejo de voltar.


Em noite escura, luz reclusa,
Busco no céu o meu guia,
O Cruzeiro que ao Sul me conduza.

Renato Oliveira

Meu universo...

Maior, entre todas as dores,
É a dor de saber-me,
Solitário, voz que jamais será ouvida;

Maior, entre todos os amores,
É o amor de querer-me,
Solidário, mãos a tantas mãos estendidas;

Maior, entre toda solidão, é sonhar-me
Universo onde repousem os sonhos
Que não me sonham e me buscam
Como refúgio de almas sofridas;

Maior, entre toda esperança,
É sentir-me certeza
No amor que me sustenta
E no coração se abriga;

Eis, assim, meu universo:

Solitário na dor,
Infinito no amor,
Eterno nos meus versos...


Renato Oliveira

Ilusões...

As ilusões? Estas passam,
Mas ficam os sonhos.
E eu insisto em sonhar.
Nos sonhos, torno real
O que a realidade me toma
E o consciente desfaz.
Se a dor me enclausura,
Então eu sonho liberdade;
Se a liberdade é sonho distante,
Então eu sonho esperança;
Se a esperança é espera infinita,
Então eu sonho saudades;
Se a saudade me tortura,
Então eu sonho a morte;
Se a morte possuir a vida,
Então eu serei o sonho
A rondar por toda cidade...


Renato Oliveira

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Paz do infinito amor...





Paz do infinito amor
Que me tem,
Vem e derrama tua luz
Por sobre estas vidas
Vazias de sentimentos.
Não deixe te vençam
Os azedumes, os lamentos,
Não te transformem em cruz
Aqueles que te cultuam
Apenas como esperança última
Para a fé perdida.
Paz do infinito amor,
Doce amor de Jesus,
Espalha tua graça
Por entre todas as raças
E faça das diferenças
Um só povo, um só reino,
Unidos pela mesma crença
Das tuas palavras benditas.




Renato Oliveira

Se quiseres me amar...

Se quiseres me amar,
Precisas, antes, saber de mim.
Saber dos meus medos
E dos meus anseios;
Das minhas alegrias
E minhas saudades;
Das minhas mentiras
E minhas verdades;
Dos meus sonhos
E minhas fantasias
Onde me agarro
Nos momentos de solidão.

Se quiseres me amar,
Terás que me buscar
Nos lugares por onde existo
-No sol, na chuva, no vento,
No brilho das estrelas
Que enfeitam a madrugada.

Se quiseres me amar,
Terás que me encontrar
Nos versos da poesia,
Que despertam os mistérios
Da paixão adormecida,
Na dor do amor esquecida;
Terás que fazer da tua crença
Meu credo e minha existência,
Meu querer e minha esperança;
Terás que ter vida além da vida
Para que eu continue a existir
Além de mim mesmo.


Renato Oliveira

Riscos e rabiscos...

Risco o papel branco e puro
Colocado à minha frente,
Imaginando sobre ele as mais belas
Palavras, formando versos solenes
Em poesias que causariam inveja
Ao mais nobre imortal da academia.
Mas o que tenho, afinal,
Não passam de palavras assustadas
Com minha petulância de expô-las,
Assim, a cupidez de tanta gente.
De tanta vergonha, embaralhadas,
Não dizem, sequer, um ceitil
De tudo que precisavam dizer.
E quem morre de vergonha,
Sou eu...


Renato Oliveira

Tantas vezes...

É muito triste quando os dias passam sem notícias de pessoas que estimamos, amamos muito...
E, hoje, meu dia foi muito doloroso.

Em meio a essa balbúrdia que é a vida, uma vez mais vi morrerem minhas esperanças de alcançar um pouco de paz.
Eu precisava, eu procurava um momento de solidão.
E o dia não passava. Lento e preguiçoso, o sol teimava em permanecer no meio do céu, enquanto eu suplicava para que a noite chegasse e, com ela, todo o silêncio que a envolve, que me envolveria também.
Enfim, a noite chegou. Sentei-me na varanda de casa para conversar com a noite, com as estrelas, pedir que me ajudassem a clarear meus pensamentos, meus sentimentos.
Mas havia muitas nuvens no céu. Não havia estrelas, não havia lua.
Mesmo assim, fiquei ali, por algumas horas.
Na verdade, estava ali somente meu corpo. Eu mesmo me encontrava distante, longe, na busca de um olhar. De um olhar perdido na vastidão desse mundo.

Tantas vezes te senti tão perto,
que erguia minha mão para acariciar teu rosto...
Tantas vezes ergui minha mão para secar uma lágrima tua,
ao sentir que choravas...
Tantas vezes sorri, ao pressentir que, ao longe,
tu também sorrias...

Tantas vezes...

Tantas vezes tuas palavras doces aqueceram minha vida...
Quando, para todos em volta, eu não mais existia...
Tantas vezes a ternura da esperança plantastes em mim...
Quando, ao meu coração, nada mais importava...
Tantas vezes, da alma sofrida, afastaste o desgosto...
Quando, em meio às tormentas, me aproximava do fim...

Tantas vezes...

Tantas vezes, em prece aos ventos, teu nome cantava...
Doce canção para embalar meu sono, meu sonhar...
Tantas vezes tu, na distância de nós dois, me acalentava...
Em suaves preces, orações para meu novo despertar...

Tantas vezes...

Uma vez...
Uma vez, uma única vez, ouvi tua voz, doce, terna...
Balada angelical unindo-se ao meu cantar
Do amor que faz, da vida, verdade eterna

Na doce ventura de, sonhando, te amar...

Uma única vez...

Uma vez, uma única vez, bastou-me...
Para saber, do amor, em sua grandeza...
Um sol, radiante, que iluminou-me...
E fez, do amor, a minha natureza...

Uma única vez...

Renato Oliveira


Vai, poeta,
Desperta teus sonhos,
Tristonhos ou coloridos,
Adormecidos no teu peito,
Leito remanso dos teus ideais.
Vai, canta teu canto
P'rá espanto de quem ouve
E não vê a poesia
Que passeia pela vida
E é vida nos teus versos,
Dispersos no infinito do teu ser.
Faz verter o mundo
Profundo das emoções,
Das ilusões que povoam
Os sonhos e não se fazem reais.
Vai, deixa jorrar esta fonte
Reponte dos sentimentos,
Alento dos corações amantes
Que te fazem mirante
Das paixões no amor correspondidas.
Vai, poeta,
Canta teu canto
E faz da tua poesia
A essência desta vida.


Renato Oliveira

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Eu mesmo...

Os que me espreitam
Por entre as frestas
Dos seus olhares estreitos,
Estes terão a vida por entre as gretas;
-E eu sou a vida por inteiro..



Renato Oliveira

Traços... (Em memória dos que se foram)





Traço, num traço, minha alegria
E, com mais um traço,
A cruz da minha agonia.
Estou diminuindo,
Ficando pequenino, pequenino.
Retiram de mim, aos poucos,
Pedaços de um corpo
Que eu julgava eterno...
Agora, não tenho mais dúvidas,
Eu, de mim, estou sumindo...




Renato Oliveira

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Te amo...

Sonhar... Foi um sonho que se fez realidade ou minha realidade que transformaste em sonho? Sonho feliz de te amar...
Sonhar é mais do que fechar os olhos e ter imagens rondando o abstrato da vida.
Sonhar é mais do que deixar-se levar, inerte, pelo pensamento vadio e arredio em busca do que não se sabe.
Sonhar é mais, muito mais.É ter o pensamento guiado através de paradisíacos prazeres que encantam os olhos, festejam o amor, alegram o coração.
É ser guiado através do mundo encantado do amor, descobrindo e sendo descoberto a cada momento.É saber, no olhar que te mira, a verdade encantada do querer e ser querido.
É dormir fatigado no amor, despertando por entre sorrisos de alegria, tendo na boca e no corpo o sabor do amor mais sublime.
É amar um amor que o mundo talvez não compreenda, por não saber a força desse amor.
É te amar, te querer, sempre. Te buscar em cada minuto de vida, fazer de ti a vida, a excelsa doçura do viver.
Estarei sonhando esse tempo todo? Não, não. Tu és realidade em mim. Tu és minha realidade de vida, de amor.
Te amo. Dizer isso parece tão simples. Mas é algo que não se prende a palavras. Vai além.
Dizer que te amo... Não me basta dizê-lo. É tão pouco para um amor tão grande. Quisera ter poderes para fazer esse amor se mostrar por inteiro, tornar-se algo concreto aos olhos, não somente ao coração. Para que pudesses vê-lo tão real quanto o sinto em mim. Ao mesmo tempo tão forte, tão suave e tão doce.
Sim, é doce te amar. É suave te amar. Por que és o diáfano manto de amor que me cobre. Me protege, me dá forças. Invisível aos olhos, mas tão vivo em meu coração.
Te amo. Verdadeiramente, te amo. A cada dia, um amor que se transforma em luz e calor em meus caminhos. Transformando meus caminhos, onde renasce minha vida em ti.

Imagino que vens,
Débil e tênue imagem,
A romper a penumbra que me envolve.
Teu vulto é luz e cativa. Hipnotiza.
Etérea figura de sonho, que se esvai
Quando tento tocá-la. Evolve dores
Passadas, amor presente,
Quem se quer não querendo a gente.
Passeias pelo meu quarto, a zombar de mim.
Que és? Sonho ou realidade?
Porque não te vens, pura e real,
Deixar-se desfalecer em mim,
Preenchendo com teu corpo
O vazio dos meus braços?

Renato Oliveira

O olhar do coração...

O olhar do coração, ao te ver, me revelou um mundo de amor que foge à compreensão dos homens, mas segue as leis da vida.
O olhar do coração mostrou-me que o amor não tem barreiras, sentimentos perpassam por olhares indiferentes e se fixam na reciprocidade de um outro olhar.
O olhar do coração não busca, simplesmente, o prazer passageiro, mas o amor derradeiro, em quem tem os mesmos sonhos de amar com harmonia e felicidade.
O olhar do coração explora, num único olhar, todo o objeto do seu amor. Vê, num único momento, tudo que se nos revela e nos une, tudo que nos cobre e nos abriga nesse novo mundo que se desdobra, um convite à troca dos sentimentos mudos.
Com o olhar do coração, podemos ver que há um mundo novo a nossa espera, onde poderemos viajar e experimentar a beleza, a riqueza da descoberta dos caminhos de cada um.
Caminhos que levam à ternura do amor perene e imutável, prospecção prazerosa nos corpos de cada um.

Bastou-me abrir as janelas da alma, para te descobrir...
Bastou-me um olhar para saber que minha vida estava toda em ti...
Bastou-me um olhar para saber que cabias inteirinha em mim...
E, assim, sonhos de mil noites, procuras de mil dias
Fizeram-se realidade em sorrisos que despertam fatigados a cada hora...

Renato Oliveira

domingo, 9 de agosto de 2009

Eu e os outros...

Nesse cárcere em que me jogaram
Não deixaram a vida
Me acompanhar.
Não morri, não morrerei jamais
Agora sei que sou eterno,
Eternidade em mim..

Iludido por tantas áureas
Auroras, sucumbi ao desejo
De ser protetor e me dei
Mais do que de mim exigi.
E onde foram todos os sonhos?
Desceram pelas águas dos rios,
Nas chuvas que os levaram.

De que serve, então,
Tanto servir?
De dar-se à esmo,
Mesmo entre seus iguais?
Não haverá outros corações
A pulsar nos mesmos rítmos abissais.

E tu, que me acompanhas, oh, dor?
Porque não escondes teu rosto
E levas tua máscara
Horrenda e disforme à quem
Te suporte mais?
Deixa-me, esqueça-me.
De mim nada mais terás.

Na ausência do amor,
O amor me encontrou.
Eu o buscava, não o via;
Desisti, ele me amou.
Quero, desse amor etéreo,
Levá-lo às carnes,
Dar-lhe o sentido e o prazer
Que aliviem o desejo
Do gozo tardio
De quem nunca soube tê-lo.

Da letargia
Aguda e pontiaguda,
O sonho fez-se essência
Do querer.
E de cada tua ausência,
Amo, então, a existência
Do amor.
Há o que mais provar?

Nas rodas do eterno
Desfiam-se fios
Do destino,
Esquecidos de outra criação.
E onde encontro o fio da meada?
Nas mãos cansadas
do Fiador?
Ou na vida cansada
Do ir e vir, sem solução?
Renato Oliveira

Pela janela...






Pela janela entreaberta olho a rua,
Na tarde de inverno tão sozinha,
E nela vejo refletida toda solidão
De uma dor que deveria ser só minha.


Só as folhas secas, das arvores caídas,
Arrastando-se pelas calçadas vazias,
Despertam o pensamento vadio,
Na distância do tempo esquecido,
Em busca do elo perdido
Em algum momento da travessia.
Pior para mim, que a vida
Me fez uma saudade não sentida.



Renato Oliveira

sábado, 8 de agosto de 2009

Pensamentos esparsos...

A mão do infinito
Sustenta o pêndulo
Que equilibra a vida.
O céu? Permanecerá azul
Por toda eternidade...


Renato Oliveira

Anjo Negro...



















Vem, anjo negro da divisa,
Vem e arrasta-me aos teus domínios.
Se, para alguns, és o fim do caminho,
Para mim és a essência da vida.
Vê. Meu corpo já não reclama calor,
Não mais tremem minhas mãos
E faz-se em mim
O silêncio dos sepulcros.
Vem, e sejas bem-vinda,
Minha cortesã de negros vultos.
Trás em ti a voz do púlpito
Que abrandará minha alma
E me levará à paz do infinito.
Lá repousarei meu fardo oculto,
Por mim carregado em vida
Disfarçado em muitos risos,
À custa de muitas lágrimas, contidas
Na dor de não saber chorar.





Renato Oliveira

Trovas

Anda a doer-me a alma e a consciência
Diante dos fatos agora revelados
Que peço à Vós, meu Deus, clemência
E alívio para este fardo tão pesado.

---

Ao longe ouço soar trombetas,
Arautos de um novo tempo que chega,
Sôpro de vida que alenta
A paz que o mundo tanto deseja.

---

Por felicidade entendia-se
A satisfação de um desejo;
Por um abraço, morria-se;
Chegava-se ao céu por um beijo.

---

Mas, afinal, o que é esta tal felicidade?
É o amor, é o gôzo da vida, é o dinheiro?
É fração ou a vida por inteiro,
Ou vida que após vida nos invade?

Renato Oliveira

Uma história do amor...

Numa cidade tropical, banhada pelo mar, com lindas e extensas praias, emoldurada de montanhas verdejantes, morava um homem não muito jovem.
Passara a vida sendo responsável por um rebanho familiar, onde um só reconhecia-lhe o valor e o desprendimento.
Mas era um sonhador... E viva a filosofar, mesmo que disso não soubesse...
E perdia horas tentando entender o enredo da vida, todos seus liames e emaranhado de passos que levam, quase sempre, ao sofrimento e à solidão.
E deixava-se ficar esquecido de si mesmo nesses pensamentos, em busca da verdade que um dia poderia lhe trazer a felicidade. Que lhe desse, por menor que fosse, um tiquinho de tempo para ser feliz.
E passou, nas modernidades do tempo atual, a navegar pelo mundo através da tecnologia de um computador. Encontrava temas que o encantavam, notícias que o aterravam, manchetes que o espantavam.
Mas, um dia, achou algo mais. Um nome. Sim, apenas um nome. Mas continha esse nome tal força, tal energia, e nele se impregnou de tal forma, que o brilho daquele nome o fascinava.
E a partir daquele dia, não via a hora da noite chegar para poder conversar com a dona daquele nome. Não a via, nada sabia, mas estava apaixonado.
E, assim, o tempo passou.
E ele, então longe daquela cidade, dela mais próximo, porém ainda sem se tocarem, deu-se conta de que o amor que os unia, era como o sol e a lua, pois mesmo que se amassem, estavam distantes um do outro, presos as suas preocupações; ele, a reconstruir e reconduzir sua vida por caminhos menos árduos; ela, aprendendo a conviver com o amor ausente.
Se choraram, se choram ainda a cada noite pelo amor ausente, não vou lhes dizer.
Mas esperam, sim, pelo Senhor da Vida, que virá e lhes dirá que podem seguir juntos, que seus compromissos foram todos cumpridos e que um amor como aquele não pode viver solitário em cada coração.


Te espero tôdas as manhãs...
Não sei quem és,
De onde vens, para onde vais.
Apenas sei que vens e que passas
Indiferente ao meu olhar
A seguir teus passos pelas calçadas
Vazias de tôdas manhãs.
Enquanto segues teu caminho rotineiro,
Me entrego aos sonhos, por inteiro,
Que tua presença desperta.
Queria saber tudo de ti.
E queria estar na tua vida,
Nos teus olhos, na tua boca,
Mergulhar no teu corpo
E em ti me deixar renascer.
Eu queria, tanto, tanto,
Mas, no entanto,
Só te vejo passar...

Renato Oliveira

domingo, 2 de agosto de 2009

Estagiárias.

Ao longo da minha vida profissional, muitos estagiários estiveram presentes na minha área de trabalho. Ano a ano se repetia aquela leva de estudantes buscando um aprendizado na prática, o que na prática pouco se dava. Jovens que chegavam com um comportamento diferente daqueles "cascudos" que se repetiam ano a ano, só modificando o humor. Para pior. E traziam consigo uma alegria, um compromisso descompromissado que atenuava o ambiente, por conformação, saturado. No meu último ano na empresa, um pouco antes de sair, pensei em fazer uma homenagem a todas essas crianças que sempre traziam alegria com suas presenças.

Fragmentos de estrelas candentes
Em busca de luz própria,
São iluminados por astros esplendentes
No traçar os rumos de suas trajetórias.

Filhos da luz de outras vidas,
Dão ao olhar cansado novas cores
E os ares da juventude esquecida.
Enfim, nesse deserto, flores...

Mas são efêmeras... Passam
Tão rápido quanto o pensar...
Mas as saudades que deixam,

Ai de mim, são penas eternas,
Que comigo irei carregar
Até o surgir de nova era.

Renato Oliveira

Teu poema

Escrevi um poema enquando dormia...
E cada sonho era um verso...
Simples... Etéreos... Dispersos...
Não importa... Nem a hora tardia

Em que chegaram. Eu só queria
Conhecer a dona desses ritornelos,
Quem sabe, então, fazê-los mais belos,
Resplendentes como a luz do dia.

Escrevi um poema enquanto dormia...
Mas... a quem oferecê-lo?
Estive a construir um castelo

Que não era meu, não me pertencia.
No silêncio, um rosto me espia na janela.
O poema! É teu. Toma-o... Eu não sabia...

Renato Oliveira