quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Passo a vida...

Passo a vida procurando
Os caminhos por onde andar
E sem querer vou ficando
Em lugares que não deveria estar.

E mais longos se fazem os caminhos
Quanto mais o cansaço me toma.
Em meio à multidão vou sozinho,
Não me segue nem minha sombra.

Mas haverá dia em que me veja
Pelos caminhos da vida perdido,
Em meio a trilhas do desconhecido,

Implorando um socorro qualquer.
E dessa solidão, de mansinho,
Surge a luz, em forma de mulher...


Renato Oliveira

Eu passarei...

Passarei. Isso já estava escrito
Antes mesmo de eu nascer.
Eu passarei como todos passarão.
Mas quero guardar para mim
A dor, o desprazer, de chorar a todos.
Não se trata de egoísmo,
Mas de uma forma de carinho.
Não quero que ninguém me chore,
Pois acho que não mereço tal pranto.
Reservo-me, pois, o direito
De esperá-los partir, para contar
Com um cortejo que me aguarde
Quando chegar a minha vez.

Mas, talvez, seja egoísmo sim
Ou, então, o medo da morte
Que procuro disfarçar
Com esta falsa afirmação
De não querer fazê-los chorar,
Coisa que não sei se irá acontecer.
De qualquer forma, acreditem,
Realmente eu não faria nada
Que maltratasse ou magoasse
O coração de quem me quer bem.


Renato Oliveira

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Eu te amo (Para uma pessoa especial)...

Eu te amo...
No amanhecer de cada dia,
Onde encontro a luz que irradias
E ilumina meu viver.

Eu te amo...
No entardecer de cada dia,
Onde encontro a paz e a poesia
Do teu amor a me envolver.

Eu te amo...
Nas horas longas das madrugadas vazias
Onde o sonho de te amar alivia
Toda angústia que a vida possa trazer.

Eu te amo, enfim...
Porque és o amor em mim,
Porque me fazes renascer
A cada instante, em ti...


Renato Oliveira

sábado, 19 de dezembro de 2009

Solidão...

Ao ver, aos poucos, todos se despedindo
E na casa imperando o vazio e o silencio,
Mais concreta se torna a idéia de ausência
E solidão. Ao passar do tempo vão caindo
Os laços que entrelaçam as existências,
Rompidos pelas barreiras criadas pela distancia.
É o nada que parece tomar sentido,
Envolvendo a vida e o tempo. Estagnação.
Sem tempo e sem vida. Solidão.


Renato Oliveira

Quem da vida...

Quem da vida esquece a cor
E da esperança o carinho,
É rio que corre fingidor
Por águas em torvelinho

E mergulha com furor
Sobre as pás de um moinho.
Pequenas vagas de rancor
Ajudam a rodar o moinho

Que alimenta tua dor
Enquanto segues teu caminho.
E o amor, teu mar maior,
Faz-se revolto redemoinho

Sugando para teu interior
As mágoas do ser sozinho.
E buscas encontrar o sabor

Que te devolva ao velho ninho,
Em meio ao que te restou

Entre rosas e espinhos.

Renato Oliveira

Passageiros do tempo...

Passageiros do tempo,
Cruzamos os séculos
Tropeçando nas horas.
E a vida? E a Fé?
Brilham insistentes,
Nos corações indiferentes,
Pobres senhoras...


Renato Oliveira

Porque...?

Porque nos teus braços
Carregas a vida
E na alma esta triste ferida
Por saudades de quem não tens?

Porque não trocas pelo avesso
A vida que não tens na alma
E deixa crescer o desejo,
Nos olhos chama perdida?

Porque não vestes a alma
Com a vida que carregas nos braços
E deixa escapar entre os dedos
A saudade que te faz tão doída?

Renato Oliveira

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Eu, caçador de sonhos...

Eu, caçador de sonhos,
Que procuro nuvens
Onde repousem ,
serenos, Eros e Afrodite,
Me desfaço em pedaços
De mil faces de um ser
Que não consegue ser
Nada mais além
do que um simples mortal.

Carne pela carne gerada,
Pela vida degenerada,
Indiferente ao espírito
Que lhe move os sentidos
E os sentimentos.

Eu, caçador de sonhos,
Me refaço em caça
De mim mesmo,
Fugas do que me sei
(O real que a natureza criou),
Em busca do que me imaginei
(O irreal de quem sonhou).

Renato Oliveira

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sorriso de Madona...

Chove. E apenas teu mudo retrato
Na parede, olhos fixos em direção à porta,
Sorriso de Madona, parece ter vida
Em meio ao silêncio e o vazio da casa.

A chuva batendo nos vidros da janela,
No rádio uma canção que canta saudades,
Tudo isto me trás lembranças tuas.

E sonho. Diante da janela, olhando a rua,
O pensamento se perde e flutua
Em busca de todos os momentos
Em que estiveste junto a mim.
E tão real é a idéia da tua presença
Que sinto teu corpo rente ao meu,
O calor da tua boca, o carinho dos teus braços.
Tento te tocar e desfaz-se tua imagem,
Miragem pelo desejo do amor criada.
E não te vendo, desfaz-se, então, a ilusão
E nem a mim me sinto.

Chove. E, na parede, teu mudo retrato,
Sorriso de Madona, parece zombar de mim...


Renato Oliveira

Tu nascestes da minha poesia...

Tu nasceste da minha poesia,
Te fizeste realidade em meus sonhos,
Enquanto aquecias minhas noites
E colorias meus dias
Com as cores da esperança.

Te criei em verso e prosa,
Te criei amor-criança.

As cores do arco-íris
Eram teus passos na minha eternidade.

Da poesia ao sonho, do sonho à realidade,
Desgastou-me o tempo perdido
Em esculpir meu sonho,
A espera que essa poesia
Viesse ao meu encontro
Nos teus braços estendidos,
Prontos a me receber,
Que já não tenho mais vida.

Só um crepúsculo, não tão colorido,
De um resto de existência.
Um pouco de luz no teu caminho
Se quiseres aceitar o que resta de mim...


Renato Oliveira

sábado, 5 de dezembro de 2009

Existo num lugar de tudo ser...

Existo num lugar de tudo ser;
Mas queria viver num lugar de só ser...
Só ser eu mesmo...
Só ser vida...
Ser...
Mesmo só...
E hoje me quero ser definitivo.
Fazer minhas malas (eu as tenho ainda?)
Meus pés na estrada
Sem deixar rastros que alguém possa seguir.
Para também não ser...


Renato Oliveira

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Vem a noite...

Vem a noite de estrelas ornadas
E vem a lua no céu tão pálida...
Vem docemente, tão lentamente,
Como se tivesse as mãos caídas...
A lua, desilusão solitária
Na profusão de estrelas do infinito...

Num tempo em que eu era outro,
Outros eram também meus pensamentos.
Mas um outro novo tempo chegou
E virou minha alma do avesso.
Agora já não penso...
Não tenho mais tempo...

E a lua no céu tão pálida...
Vem docemente, tão lentamente,
Como se tivesse as mãos caídas...
Iguais as minhas...


Renato Oliveira

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Nesse Natal...

Nesse Natal, eu queria
Escrever uma poesia
Que lembrasse, simplesmente,
Que é Natal...

Uma poesia sem palavras,
Feita apenas de gestos
De amor e de afeto.

Uma poesia que aproximasse irmãos,
Fizesse nascer o amor
Em cada coração...

Uma poesia
Que abrisse a caixa dos sonhos
E deixasse escapar a criança de cada um.
Saboreando a vida em sanduíches de violetas
Recheados de acácias e orquídeas,
No piquenique das lembranças...

Nesse Natal, eu queria
Escrever uma poesia
que lembrasse, simplesmente,
Que é...
NATAL...

Renato Oliveira

domingo, 29 de novembro de 2009

Africa...

AFRICA.
Mãe negra de filhos famintos,
Abrigas cadáveres nos ventres
Das tuas mulheres.
Da raça negra, daquela tua gente
Exilada pelo mundo sob o açoite
Da chibata, semeias, hoje,
Túmulos por filhos que não nasceram
Por filhos que não cresceram,
Por pais e filhos que não viveram.

AFRICA
Mãe negra da fome
Que corre por tuas terras
Levando em suas garras
Seres desfigurados pela fome
Que se arrastam feito animais
Febris, em convulsões mortais.

AFRICA
Grita, te agita,
Mostra ao mundo
Esta tua cara faminta,
A miséria em que te deixaram
As guerras, as ambições.
A exploração desenfreada
Das tuas riquezas. Do africano.
Mostra aos poderosos das grandes nações
Que também fostes o berço da humanidade.
Que mereces, também, um pouco de piedade.
Por tuas crianças descarnadas.
Por teus velhos de olhos saltados de fome.

Por tua gente que morre, morre, morre...

Renato Oliveira

Não feche seus olhos...

Don’t close your eyes
For the world that was received,
Because…
Eu sou o vento
Que agita os teus cabelos,
A brisa que acaricia teu rosto,
O sol que aquece teu corpo,
A chuva que chora
Tua tristeza.
Eu sou a luz das estrelas
Que velam por teu sono,
O luar que acalenta teus sonhos,
A noite que encobre tuas dores.
Eu sou o perfume das flores,
O cantar de um passarinho,
A sombra acolhedora do caminho.
Eu sou o amor.
Só!


Renato Oliveira

Para minha mãe...

Nascemos dez. E crescemos nove
Por graça da vida que se fez morte,
Indiferente aos apelos de quem sofre
Por ver rompida a corrente da vida.
E crescemos nove por caminhos retos,
Sob a égide de doces olhos maternos
Que a todos vigiava e dava acolhida
Nos infortúnios trazidos pela sorte.
E crescemos nove por conta própria
À custa da conta que já viera quitada
Na figura meiga que se desdobrava
Para ver suas crias alçando vôos maiores,
Em busca da própria trajetória.
Crescemos nove e hoje multiplicados,
Paramos e olhamos para trás,
Buscando no exemplo de tuas ações,
O espelho em que possamos nos mirar
Para sermos tudo o que fostes por nós.

Obrigado, minha mãe.
Deus lhe pague.


Renato Oliveira

Menino de rua...

Passo a passo, dia após dia,
Teu destino se forma e evidencia
Nos traços que traçam tua agonia
Nesse teu estranho viver.
Órfão da vida na vida que te acolheu,
Das tuas origens não guardas o sabor,
Não provastes o gosto de ser filho, irmão,
De dar e receber amor.
Te acostumastes ao frio das ruas,
Teu agasalho é o jornal que te noticía.
E nas longas madrugadas de solidão,
O medo é tua única companhia.
Perambulas pela cidade, destino incerto,
Em busca da migalha que de algum prato caia,
Que de mão dada nada recebes de quem passa
E te olha com olhos em estranho objeto.
Pensando enganar a fome e a vida,
Viajas nos sonhos forjados da droga maldita
Que te engana e te abre maiores feridas,
Mais na alma do que no teu próprio corpo,
Já marcado pelas dores do desconforto
De seres pária no teu próprio meio.
Aprendiz no duro jogo da sobrevivência,
Estás nele a batalhar por tua existência,
Sem saber por que e a que veio.


Renato Oliveira

Introspecção...

As idéias se confundem em minha mente.
Hoje sei que eu sou eu, me conheço. Reconheço.
Do passado me encontro em profunda ausência.
Mas, e amanhã? O que serei? E o que será
Da vida de que hoje tenho consciência?
Em vários momentos, em minha cabeça,
A idéia de que se outra pessoa fosse,
Outras seriam minhas atitudes.
Mas, se outro fosse, não seria eu
E, portanto, nada saberia de mim.
E por não saber de mim, como saber,
Então, a diferença entre um e outro viver?
Se desse eu de que tenho conhecimento
Surgisse uma centelha da vida vivida
(um dia, um século, um milênio, quem sabe?)
Poderia me ver como outro sendo,
Não a imagem no espelho refletida,
Imagem por vaidades distorcida,
Mas a verdade do fato consumado
Nos meus próprios olhos que estão me vendo...


Renato Oliveira

Carta à minha irmã...

Sei que tenho lembranças. Se tu as tens, não sei.
E isso não importa. Importa é o que eu sinto.
E, hoje, mais ainda, elas me vem da forma mais cruel.
Longe, nas horas do sul, tempo e vida se conjugam.
As lembranças são nuvens que passam
Sem que ninguém erga os olhos para vê-las.
Não importa que cubram as estrelas,
Não importa que chamusquem o céu
Colorido de todos, todos os dias.
São nuvens que passam, simplesmente,
E eu continuo a existir, todos os dias,
Mesmo que ninguém se de por isso.

Rio/RJ-Natal de 1999.
Renato Oliveira

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Estranha vida...

Estranha a vida...
Arrastou-me por caminhos que jamais suspeitava, promoveu encontros que, a mim, nada diziam e juntou-me a vidas, à minha vida, tão estranhas...
E resolveu premiar-me, por minha resignação, com uma jóia trazida do céu e colocada em meus braços.
E dediquei-me aquela jóia. Cuidando, polindo, para nela encontrar o brilho que em mim havia perdido.
Ah! Com que prazer me dediquei a essa tarefa. Prazerosa, não provocava cansaço ou exaustão. Poderia ficar dias e noites insones sem que disso me desse conta, tal o encanto que me provocava.

Estranha a vida...
Assim como colocou em mim essa jóia, um dia resolveu tomá-la de volta.
Sem prestar contas, sem se dar conta que ali estava um pedaço meu, que nela já havia deixado grande parte do que me conhecera.
Era um pedaço do meu corpo que também se ia.
E era minha alma que se desfazia. Como se fora um sonho que se despedaça ao despertar. Não existe mais. Ficam só lembranças.
Por longo tempo, me fez experimentar o amargo de sofrer por essa perda, vestiu meu coração de luto, apagou o brilho que mal havia começado a me iluminar.

Estranha a vida...
Um dia, quando nada mais esperava, se não o fim já anunciado desde o meu primeiro minuto; quando não via mais sentido para nada, outra jóia faz surgir na minha vida.
Um novo tesouro, que surgiu feito um clarão na escuridão de minha noite que se fazia eterna.
Mas não foi o clarão de um raio, que risca o céu da noite e se vai.
Era luz. E vinha para ficar.
Uma luz tão forte, tão intensa, que desvestiu meu coração do luto que teimava em manter e vestiu-o com as cores de uma nova esperança, com as cores brilhantes e luminosas do amor. Essa luz soube guardar e respeitar minhas lembranças, fazendo-as mais doces de recordar.
Assim, de repente. Não mais do que de repente.
Do amor em sonhos suspeitado, à realidade do amor em verdade transformado, transmutando toda vida.

Hoje tenho dois anjinhos que cuidam de mim.
Um, lá no espaço celeste, de onde, tenho certeza, me cobre com todo seu carinho e suas preces.
Outro está aqui, junto aos meus passos, velando por mim, olhando por mim, fazendo desse meu viver algo que valha a pena ser vivido.

Mas, essa estranha vida...
Me assusta, me dá medo.
De que resolva, outra vez, brincar comigo e me tomar esse tesouro com que enriqueceu a minha vida.
Estará ela, essa estranha vida, coroando todos seus esforços para mostrar-me que suas forças são superiores às minhas.
Ela, essa estranha vida, tem todo o tempo do mundo a sua disposição.
Eu não tenho mais tempo nem idade para brincar de amor...

E eu preciso desse amor que agora me tem.
Eu não tenho mais tempo de esperar o momento para ser feliz...

Meu momento e lugar de ser feliz é agora, no coração do meu amor...


Renato Oliveira

sábado, 21 de novembro de 2009

Trovas

As vestes encobrem pudores
De pessoas sem pudor nenhum.
Porque não se vestem de flores
A nudez dos olhos de cada um?

o-o-o-o

Sombras ou sonhos, o que somos?
Se de nós não temos vestígios
Pegadas que nos conduzam ao que fomos,
Como pensar que somos os eleitos do Divino?

o-o-o-o

Quando era assim, de brincadeira,
Tu fingias me amar;
Mas a paixão chegou por inteira
...E não quisestes mais brincar.

Renato Oliveira

sábado, 14 de novembro de 2009

Ama...

Ama.
Mas não faça do teu amor a vida de dois amores.
Não caberão, em teu único mundo,
De dois, todas as dores.

Ama.
E deixa, entre ti e teu amor, a suave sensação
Do encontro desejado, da espera não satisfeita
Dos dias em que não estão.

Ama.
Mas não faça do teu amor a guante
Que há de sufocar e matar o amor
Pelo excesso do que chamas amor.

Ama.
E aprecia esse amor
Com a mesma delicadeza com que degustas um vinho,
Sentindo-o em todas suas nuances de cor e sabor.

Ama.
Não na brevidade do tempo que conheces,
Mas na eternidade da vida que amanhece
E em ti vem se descobrir.


Renato Oliveira

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Porque choro...

Porque choro?
Choro porque amo e o amor está ausente.
Choro por ser só, e só, ser saudade
No corpo inteiro. E a lágrima acalma,
É como se estivesse lavando a alma
De todas amarguras que me tomam
A cada lembrança que se faz presente.
Choro, sim, sem medo ou vergonha,
Pela morte dos sonhos que se foram,
Os castelos erguidos por quem sonha
Vida e desperta solidão.


Renato Oliveira

Eu não existo...

Eu...
Eu não existo...
Façam de mim uma visão,
Algo que surgiu no clarão de um raio,
Apenas ilusão.
Eu não existo...
Não passei de pressentimento
E me tomaram por real...


Renato Oliveira

Na alameda das horas...

Na alameda de horas formadas, eu sigo...
O relógio aponta uma hora no tempo parada.
O tempo persegue as horas que virão...
E eu corro atrás de minutos que se foram...
E acabam, ambos, tempo e horas, me engolindo...

Na réstia de sol que ainda resta iluminando
Um pedacinho de céu, há brilho...
E nesse brilho, quanto há Deus?
O quanto será Deus?
Ou será só isso que de Deus tenho conhecido?

Tateio em busca dos sonhos perdidos
Em horizontes hoje longe de mim...
Lá, bem distante, o sol declinando,
A claridade do dia levando,
Apenas mais um, no rumo do fim...


Renato Oliveira

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Saudade é o amor que fica...


(Livremente baseado no texto do dr. Rogério Brandão)


Nas tramas silenciosas do destino,
Onde vidas apenas se suspeitam
Sem jamais se terem visto,
Dois sonhos errantes se encontram.
-E se faz o amor!

Iluminado por um beijo de luz,
Mostra-se vida, força e esplendor...
E todo desejo contido na alma.

Na silenciosa ausência do amor,
Nasce uma lágrima.
Que vive nos olhos de quem ama,
Nos olhos tristes de quem chora
O vazio que a tudo devora.

Amor e saudade dão-se as mãos
E seguem no coração, sempre unidas,
Alimentando esperança e ilusão.

- A saudade é o amor que fica...


Renato Oliveira

domingo, 25 de outubro de 2009

Em ti...

Em ti me reconstruí... Lentamente
Me refiz de vida, me vesti a túnica
De bodas abandonada e renitente.

Em ti plantei as flores do amor presente,
Amor futuro, em tua fronte úmida
Brilhando cores e um olhar perene.

Em ti a entrega se fez consciente...
Sabendo-me não a emoção súbita,
Mas a certeza do eternamente.


Renato Oliveira

sábado, 24 de outubro de 2009

Se tens amor...

Se tens amor,
Tens o céu,
Uma torre de babel.
Se não tens amor
E vazio é teu leito,
Então o que será feito
Desse teu olhar
Tão aceso?

Renato Oliveira

Um dia pedi à Deus

Um dia, pedi à Deus para não crescer.
Queria ser igual a Peter Pan...
E Ele me atendeu...
Não cresci.
Mas o meu corpo não entendeu
Ou esqueceu do meu pedido...


Renato Oliveira

Quando era criança...

Quando era criança e queria sonhar,
Bastava-me olhar as águas do Guaíba.
Diante daquela imensidão de águas
Ao meu olhar de menino,
Pensava:
Todos os mares teriam o tamanho Guaíba...
Todas as cidades nasceriam da minha cidade...
E me dava um medo do tamanho do mundo!

E hoje tenho medo do tamanho dos sonhos...

Renato Oliveira

sábado, 17 de outubro de 2009

Quisera, um dia...

Quisera, um dia, me ver
Pelos olhos que me vêem
E medir toda minha
Incapacidade de entender
Esse espanto que causo
Simplesmente por querer.
Sim, por querer, gostar
De quem me é caro
Por amor e sentimento,
Indiferente à recíproca.
Não é da lei?
Não estão nos escritos
As palavras daquele homem,
O Cristo,
Que nos manda amar,
Amar, amar...?
Assim eu o faço...
Porque, então, o espanto?
Foram as leis derrocadas
Ou não somos mais humanos?

Renato Oliveira

Vago pelo espaço...

Vago pelo espaço
Infindo das buscas,
À procura do encantado
Momento em que me darei.

Venho de lugares
Que não me sabem,
Trago no olhar os luares
Dessas terras; Nas mãos,
Rosas colhidas para ti, amada,
Aos pés dos cadafalsos
Dos sonhos em que mergulhei.

Toma, agora, dessas rosas
E tece com elas a oração
Que se grava na alma
E se faz eterna aliança
De corpo, alma e coração.

Renato Oliveira



Salta, gira, se contorce; Busca vida,
Se embaralha. Lança preces ao infinito
Mas não alcança a mão amiga...
Deus! Deus! Porque não ouves meu grito?

De que me adianta, então, estar aqui?
De que me servem essas parábolas,
Se à todas elas, crente, segui,

Sorvendo-as com fé, palavra por palavra,
E me vejo no mais profundo e escuro
Poço das amarguras? Ah, Pai, basta teu querer...

Renato Oliveira


Parte do teu olhar...

Parte do teu olhar
Um raio que perspassa
A noite na vidraça
E vem me iluminar,
Clareando todas as paredes
Que teimam em me cercar.
Prisioneiro dos meus medos
E minhas ansiedades,
Quero tua liberdade
De movimento de braços
E pernas, desbravando segredos
E mitos enquistados em mim.

Renato Oliveira

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Qualquer dia...


Qualquer dia, sairei pelas ruas
E irei caminhar meu destino
Através dos dias, das noites, dos dias...
Meus pés estarão cansados
E marcados pelo calor dos passos
Dados nessas estradas
Onde se perdem a horas
Tentando chegar a lugar nenhum.
E minha alma estará vazia...
E voltarei por estes mesmos passos,
Pegadas nas areias do tempo,
Similar ao ir e vir das ondas,
Uma após outra, sem nascer, sem morrer,
Mas existindo sempre,
Uma após outra... Vida...

Renato Oliveira

Estou cansado...

Estou cansado. Da vida e de mim.
Cansado dos meus erros, dos enganos,
Dos encontros e muitos abandonos,
Coisas que não consegui corrigir.
Meu caminhar, sempre trôpego,
Não trouxe, a quem pretendia,
O sorriso que imagina sorrir.
Nos gestos, nos afagos, nas palavras,
Mão e lábios não conseguiam traduzir
A emoção que em minha alma passava.
Desse amor restarão lembranças,
Imagens que o tempo não apaga,
Memória viva a embrasar a alma,
Na dor de se saber sem esperança.
O futuro que sobre mim avança
É a noite eterna dos deserdados,
Feita de névoas e de sombras...

Renato Oliveira

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Da vida, do viver...

Quando encontrei a vida, pensei comigo: “agora, posso viver.”
Mas que nada.
Estava ela tão ocupada em resolver questões políticas, que passou por mim sem perceber que a estava esperando.
Passou e se foi. E nunca mais voltou.
Fiquei ali, sentado à beira da existência, espiando tudo que acontecia ao longo do tempo que por mim também passava, mas não me tocava.
E vi surgirem filósofos, doutores da lei, doutores da medicina, doutores da arte, doutores do saber.
E cada um trazia consigo a verdade que parecia ser a derradeira, a definitiva, para explicar a origem do mundo, das gentes, do universo.
Dúvidas? Claro que as havia. Mas eram tão insignificantes que não poderiam nublar pensamentos tão elevados, eivados de tanta sabedoria.
Então, eram deixadas de lado, os intelectuais, apressados em não se mostrarem ignorantes do que não sabiam, as engoliam por medo do ridículo da pergunta que era óbvio perguntar.
E assim, na prospecção de verdades sobre origens e destinos, a cambaleante humanidade se perdeu das palavras que um dia trouxeram essa verdade para todos.

Persigo ideais dispersos
Pelo infinito do universo,
Trazidos ao mundo pelos profetas.
Foram palavras semeadas ao vento
Não tiveram paradeiro certo
E não impediram as chagas abertas
No corpo do Cristo crucificado.
Nem o sangue daquele corpo divino
Abrandou os corações endurecidos
De homens e mulheres dominados
Pelos inimigos do amor fraterno.
Ainda ressoam os ecos do amor
E da caridade nele personificados
Mas o Cristo continua, ainda hoje,
Mais e mais crucificado...


E a humanidade deixou de ter vida. Passou a existir, tão somente.
Por se perder a humanidade, fiquei eu também perdido.
Tento entrar na vida pela porta da frente, mas nunca a encontro aberta.
Procuro por alguma janela, seria também uma forma de estar nela.
Mas não consigo.
Bom, de tudo isso me resta um consôlo.
De saber que em mim pulsa a coerência dos loucos, esses que fogem às regras da civilização mais selvagem que poderia habitar o planeta, coerentes em sua incoerência de viverem a vida real que pulsa no seu íntimo.
De saber que existem os poetas, esses que não explicam porque o céu é azul, mas o fazem mais bonito com suas palavras na emoção dos sentimentos.
De saber que existe o amor, esse que faz tudo valer a pena.
Até viver.

Olho a vida com meus olhos
E não importa com quais sejam
-Se de susto ou de espanto-
Os olhos com que ela me veja.

Só não quero ser visto
Em nenhum jornal estampado
Num daqueles retratos 3x4,
Onde se fica de frente e de lado,
Numerado e datado,
Uma placa no peito pendurada,
Feito mercadoria ofertada.


Renato Oliveira

domingo, 4 de outubro de 2009

Trovas...

Do amor, quem o sabe, não o diz;
Quem não o sabe, vive dizendo;
Quem o vive, segue amando;
Quem não o vive, é um infeliz...

o-o-o-o

Quem se diz feliz por inteiro,
É uma de duas verdades:
Ou é lume que anima o candeeiro
Ou jamais conheceu felicidade.

Renato Oliveira

Tempo passa...


Tempo passa, passa o tempo
Plantando e colhendo vidas.
E de todas minhas vidas
Só restaram fragmentos,
Gemidos de viola sem lua,
Perdidos por qualquer rua,
Atados aos pés do vento.
Renato Oliveira

Deixastes correr a lágrima...


Deixastes correr
A lágrima
que não pudestes conter
No teu íntimo.
E eu me fiz, num sorriso,
A brisa que veio colher
No teu pranto,
Amor e luz,
Dor e vida.


Renato Oliveira

Estrela guia...


Teus passos são meu guia,
A orientar-me em noite escura;
Teus olhos, fonte de água pura,
Bálsamos da sede, me saciam;
Tua boca dita meus rumos
Pelos descaminhos deste mundo.
Como vês, sou teu dependente,
Feito criança carente
De todos cuidados maternos...


Renato Oliveira

Por onde vou...




Por onde vou,

Nem sei mais.

Apenas me vou

Por caminhos desiguais,

Que hão de me levar

À lugar nenhum.

Apenas mais um

A cruzar vidas,

Sem ser, sem viver.

Pois, que de onde venho,

Também já não me sei.



Renato Oliveira

sábado, 3 de outubro de 2009

Lingua de trapo...

Quem, nessa vida, nunca foi vítima daquelas pessoas que adoram falar da vida alheia?
Quem nunca sofreu por calúnias espalhadas e jamais comprovadas?
Quem nunca viu seu nome envolvido em fofocas de pessoas sem escrúpulos, sem o menor respeito pelo ser humano?
À estas pessoas que se comprazem em infernizar a vida alheia, eis o meu tributo.

Língua ferina, maltrapilha,
Envolve com veneno vidas alheias.
Não vale mais que uma casquilha
quem, com intrigas, a outros golpeia.

Língua comprida, não boca não se mantém.
Bate a todo instante, insatisfeita,
Por maldade ou inveja de quem
Às suas intrigas não se sujeita.

De tanto dançar entre os dentes,
Um dia ainda há de se morder,
Sentindo em seu corpo escorrer
O sumo do veneno de serpente

Ferindo-a como à tantos já fez.
Talvez, então, tome jeito,
E abandone essa prática nojenta
De falar mal de tanta gente.

Renato Oliveira

Poesia não é...

Poesia nem sempre é rima
Palavra por palavra.
Pode ser dor ou, então, sina,
Ou um amor que nunca se acaba.

Pode ser a tormenta benfeitora,
O sol que aquece e anima,
Ou mesmo a súplica redentora
Prece que acalma e ensina.

Pode ser a paz volejando
Tranquila, nas asas da branca pomba,
Ou a guerra, maldita, sangrando
A vida inocente que tomba.

Mas deveria ser, tão somente,
Um barco de velas flanadas,
Singrando os mares do pensamento,
Cantando a vida, o amor e mais nada.

Renato Oliveira
Sonhei que caminhava por caminhos situados
Entres as montanhas de um país distante,
Quando, ao longe, avistei um aglomerado
De pessoas em silêncio. Ao meio deles,
Havia um homem que lhes falava docemente.

Ao me avistar, dirigiu-se à mim.
E, pousando a mão suave
Por sobre meu ombro, disse-me:
"Abandona esse tédio lasso,
Vai e entrega-te à lida sincera.
Vê, ao longe, o cadafalso?
É o destino daquele que espera
Em orgia e gozo, o fim que não virá.
Formarão imensa caravana
De andrajosos peregrinos,
Arrastando tesouros mundanos
Frutos do orgulho e do egoísmo,
A pesar-lhes a alma e o destino.
Suave é o caminho daquele que ama
E se entrega, sem medo, à doce missão,
Sublime dever, de retirar da lama
Que, pelo desamor, tem fechado o coração."

Renato Oliveira

sábado, 5 de setembro de 2009

Sobre o amor...


Amor é um bem que se doa, sem impor regras ou condições.
Está em nós, mas não nos pertence. Somos, apenas, fiéis depositários. Vitalícios.
Vive dentro da gente, nos envolve, mas tem seu próprio jeito de ser e existir.
Não o domamos, não podemos fazê-lo nosso refém.
Ao contrário. Somos as bestas-feras domadas pelo amor.
Quando verdadeiro, nos toma, nos guia, dita rumos e, até, muda destinos.
É um santo remédio contra o tédio, um elixir da vitalidade e eterna juventude.
Mas, como todo remédio, tem suas contra-indicações e efeitos colaterais.
É contra-indicado para os corações duros, de pedra, não habituados às renúncias e concessões que ele exige. Podem quebrar ao contato com o amor.
É contra-indicado para aqueles que não o conhecem na sua expressão mais lídima, de pureza e encantamento, e o confundem com desejos e satisfações carnais. Pode deixar seqüelas e cicatrizes em muitas vidas.
E seus efeitos colaterais mais constantes são:
Ciúmes – Onde houver excesso dos sentidos de posse e egoísmo, em contraponto à liberdade necessária ao amor, desperta esse ácido que pode corroer lentamente toda relação. Recomenda-se diminuir ou eliminar as doses de posse e egoísmo para que isso não aconteça e o amor possa ser usado serenamente durante toda vida.
Saudade – Esse é um efeito colateral que não há como combater. É inerente ao amor. Na ausência, na distância, sempre se mostrará. E se fará tão maior quanto forem maiores as ausências e distâncias. É um efeito colateral com o qual há que se conformar, mas não habituar. Para diminuição desse sintoma, recomenda-se reduzir ao máximo possível essas ausências ou distanciamentos.



NOTA: O MINISTÉRIO DA SAÚDE DO AMOR ADVERTE:

SAUDADE FAZ MAL AO CORAÇÃO.





Se te quero, qual a sentença?

Culpa, se existe, é do amor

Que chegou sem licença

E no coração se aninhou.


---


Não são teu olhos que te olham

Ao espelho refletidos;

São meus sonhos que se mostram,

Nos teus olhos, adormecidos.




Renato Oliveira

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Pensamentos esparsos I...

Faz-se a vida
A eternidade que necessita
Para ser infinita;
Um minuto a mais
E não seria vida,
Seria suplício na dor rediviva...

---

Dizem que falo muito.
Dizem, também, que rio muito.
Mas não sabem que minhas palavras
São dores por muito guardadas,
Meu riso, lágrimas não choradas.
Mas haverá dia em que me cale
E outros terão a dor que me cabe,
E irão chorar minhas lágrimas
Não com risos, mas com lágrimas...

---

Passarão tantos por meus passos
E eu também passarei.
Da imagem furtiva que me faço,
Nas calçadas, nas ruas,nas vitrines,
Não deixo de ser um mero traço
Na vida que me projetei.


Renato Oliveira

domingo, 30 de agosto de 2009

Da saudade...

Saudade
É um momento no tempo parado,
É um despertar muito tarde
P'rá vida que já passou.

Saudade
É o avesso da vida,
É olhar por dentro a ferida
Deixada por quem partiu.

Saudade
É a dor que se canta,
Nos olhos a lágrima que brilha

Na esperança que nunca morreu.

Renato Oliveira
Foi um dia, uma noite
Que não queria mais lembrar,
Mas continuam, feito um açoite,
Sempre a me vergastar.

Doía o corpo e os olhos cansados
Refugavam o repouso, por atenção
A quem merecia os cuidados
E ajuda por minhas mãos.

“Descansa, pai, que eu também
Vou descansar”. Estas palavras
Soaram como convite do alem
Para poupar-me a alma

E o coração de enfrentar,
Como de há muito esperava,
O desfecho daquela batalha,
Angústia que me atormentava.

E agora, a cada data festiva,
Sinto mais ainda a ausência
De quem era luz e vida
Na minha vida. Ausência

Que se faz tão maior quanto
Passam os dias e os anos
Que nos separam. De tantos
Erros, tantos enganos,

Foste tu o escolhido.
Porque, não sei. Talvez
(Quem sabe?) eras o anjo mais bonito
Que havia de enfeitar o céu...


Renato Oliveira

Eternos viajantes...

Foram tantos os caminhos percorridos,
Tantos os passos por esta vida itinerante
E a nada cheguei...Simplesmente perdido...
Tão perto do nada e de mim tão distante...

E a cada dia que tenha amanhecido,
Meu sol já não se mostrava tão brilhante.
Ecos de um passado no tempo perdido,
Das fantasias em sonhos farsantes.

Quero voltar, não posso...Não consigo
Me ver do modo que me via antes,
Passageiro humilde da vida passante,

Rascunho de gente ao espelho refletido.
Me deixo arrastar, neste viver esquecido,
Pelas trilhas eternas de eternos viajantes...

Houve um tempo...

Houve um tempo
Em que o tempo não contava
E a juventude me parecia eterna.
No entanto, a vida continuava
A criar os sonhos com que me cerca,
Preparando o derradeiro ato.

E ao fim desse espetáculo,
Cortinas fechadas,
O que se verá caído, a sós no palco,
É a marionete de cordas rompidas,
Sem vida, sem público, sem aplauso...


Renato Oliveira

Não precisava não...

Não precisava, não,
Passar assim, tão rápido,
Como um acenar.
Poderias ter ficado um pouco mais,
Pra gente se conhecer melhor,
Se dar melhor.
Não precisava, então,
Tantas promessas de vida,
Tantos sonhos contidos.
Poderias ter ficado mais um pouco,
Pra iluminar mais um pouco
O meu caminho.
Trazer novos horizontes,
Me ajudar a transpor a ponte
Que nos levaria por novos desafios.
Precisava, não, partir
Sem um adeus,
Sem uma palavra sequer.
Poderias ter me avisado
Que já havia terminado
O caminho que tinhas que percorrer...


Renato Oliveira

Estranha sensação...

Que estranha sensação é essa que me toma,
Que visão é essa que me assoma
Sempre quando aqui estou?
O que queres me dizer com essa insistência
De brincar com minha consciência,
Fazendo-me crer no que não sou?
Não me vês, pelo mundo, arredio, assustado,
Sem notar quem anda ao meu lado,
Esquecido, até, por onde vou?
Por que me fazes vir a tua casa,
Servir-me de todas tuas graças
Sem que disso me sinta merecedor?
Por que me mostras agora essa chama,
Luz que ilumina e as mãos inflama
E que em mim nunca brilhou?
Ah, Deus... Que caminhos são estes que me destes,
Que mistérios em mim tecestes
Com os fios de ouro do teu amor?


Renato Oliveira

Bem que podia...

Bem que podia
A vida parar um momento
Nos sentimentos da paixão,
Na reflexão das atitudes,
Das virtudes, das verdades
E saudades, que machucam
E maltratam. Da mentira,
Do ódio e da ira no coração.
Na mão, o aceno,
O olhar sereno de quem vinha
E tinha o amor para dar,
Sem cobrar do amor
O favor da devolução.
Deixa, então, a vida que corra
E morra em paz a alma,
Na calma da brisa leve
Que a eleve acima
Das nuvens brancas

Que enfeitam o céu.

Renato Oliveira

Samba enrêdo II - Os cristais


Baila no ar doce harmonia
-luz, terra e mar-
Que a Foliões vem mostrar
Em forma de poesia.

Contam lendas antigas,
De pedras misteriosas
Do espaço à terra trazidas
Num dilúvio de cores radiosas.

Chegam em naves silenciosas
Do país ignorado da beleza,
Onde pairam formas vaporosas
Do espírito da natureza.

Espalham-se pela terra,
Invadindo as florestas
Da Ásia, Américas e Oriente,
Da Atlântida e Lemúria,
Por essas pequenas criaturas,
Os duendes.

Vou ao mar,
Banhar meu coração na luz da vida,
Afastar o mau olhado,
O quebranto e a mandinga.
Renato Oliveira

Samba enrêdo I


Na década de 90, durante alguns anos, parte da minha família (irmãos e cunhados) estiveram envolvidos na direção da escola de samba Foliões do Quintão.

Em duas ocasiões, uma de minhas irmãs, que era responsável criação das fantasias e alegorias da escola, pediu-me para escrever o que seria uma letra para o tema que a escola apresentaria.

Decidi arriscar. E aceitei.

Na primeira, uma viagem pela Amazônia, fauna, flora e minerais.

Na segunda oportunidade, um mergulho nas lendas que contam as origens dos cristais.


No coração
De um beija-flor,
A Foliões do Quintão
Viaja pela Amazônia.
Desbravando a floresta
Hoje vem fazer a festa
No carnaval desse rincão.

Entre orquídeas e begônias,
Num colorido desfilar,
Das lendas, o mistério
E os segredos do rio-mar.

Do amor de Naia à lua,
Nasce a uapê que flutua
Nas águas do igarapé.
E o boto rosa vem à rua,
Faz-se o homem que procura
A virgem para ser sua mulher.

Dentre as riquezas,
Os minérios
E as plantas medicinais,
Razão maior de cobiça
Do grupo dos “7 mais”.

É no verde desta mata,
Nas riquezas deste chão,
Que a natureza vive e exalta
O poder da criação.

E o índio, da terra nativo,
Nas lutas pelo seu chão,
Vê morrer sua tribo
Em nome da civilização.

Os animais, em livre viver;
Os pássaros, sinfônica orquestra
Que a vida na selva desperta
A cada novo alvorecer.

Rola água, rola rio,
Vai ao encontro do mar,
E volta nas águas das chuvas,
Trazendo a vida no ar.


Renato Oliveira

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Amar é tão simples...

Amar é tão simples,
Tão sem formalidades,
Que esquecemos esses detalhes
E criamos mil obstáculos.
Amor é amar tão somente,
Não importando o momento,
O vizinho do lado,
Se é dia ou é noite.
Basta amar que desaparecem
Todos esses inconvenientes,
De prestar atenção ao que se faz.
Ame.

E esqueça o resto...

Renato Oliveira



Leda O. G.

Esta é uma homenagem que faço a uma de minhas irmãs, Leda, desencarnada em 2003.
Um acróstico, onde a primeira letra de cada verso forma seu nome. Para ficar gravada em mim.
Sempre me incentivou a escrever, independente do que eu mesmo pensava a respeito dos meus escritos. Elogiava, estimulava, acariciava meu ego com palavras sempre boas e bonitas.


Lembrança guardada pelo tempo,
Estas em mim sempre presente.
Dos teus olhos, mesmo que distante,
Arde a chama em corpo ausente.

Oráculo de minhas preces,
Lanças à alma um fio de esperança
Imanente à saudade que me segue,
Vergada ao peso de tua ausência.
Em tantos caminhos que se busca
Impossível é esquecer o que passou
Refletido pelo brilho de uma estrada
Através da vida que a vida levou.

Gosto amargo de se saber tão longe
Onde o sonho da volta se dispersa,
Mergulho sem volta alem do horizonte.
E sigo nos caminhos desse mundo
Sem saber de ti, ou de nos, o que resta...


Renato Oliveira

Da esperança...

Quem espera
Alcança?
Ou apenas se cansa
De tanto esperar?
E quem alcança
A espera,
Perde a esperança
De voltar?
E quem volta?
Descansa
A esperança
Na certeza de alcançar?
E na volta da esperança
Será que alcança
O que não cansou
De esperar?
Esperança – espera longa demais
Para quem cansou de sonhar
Mas, voltar – jamais...


Renato Oliveira

Cruzeiro do Sul...

Em noite escura, luz reclusa,
Busco no céu o meu guia,
O Cruzeiro que ao Sul me conduza.

Quanto eu sonho
De um dia voltar a estes pagos,
Sorver meu mate amargo
E correr livre por esses campos,
Peito aberto a entoar meu canto,
O vento como companheiro.

-E nos braços do minuano
Ver nascer a vida e a canção
Nos olhos tristes de solidão.

Quanto eu penso
Em rever o meu Guaíba
De águas mansas beijando a areia,
Colar de prata enfeitando a cidade
Em noites claras de lua cheia.
Um colorido que encanta e fascina
No por do sol, aos finais de tarde.

-Praia de Belas, Assunção, Ipanema,
Manhãs de primavera tão serenas,
Outono, inverno, verão.

Quanto eu lembro
Das noites de junho, tão frias,
Aquecidas pelo calor de uma fogueira.
Santo Antonio, São João, São Pedro...
Alvoroço das moças casamenteiras,
Buscando a sorte nos jogos, nas simpatias.
Tantas promessas, tantos sonhos, tantos segredos...

-E o frio que corta o coração,
É todo saudade,
Não tem minuano, não.

Quero voltar
A navegar a lagoa dos sonhos,
Refletindo no sereno espelho d’água
A imensidão azul desse céu.
Que espanta a tristeza e a mágoa
De quem traz no peito o sonho,
Da volta ao lar que sempre foi seu.

-Tremulam, ainda, em águas profundas,
Os sonhos naufragados
Nos mares de uma vida revolta.

Se eu soubesse da vida
O que pensava saber de mim,
Hoje não estaria assim,
A chorar saudades tão sofridas,
Saudades tão antigas,
Quanto o desejo de voltar.


Em noite escura, luz reclusa,
Busco no céu o meu guia,
O Cruzeiro que ao Sul me conduza.

Renato Oliveira

Meu universo...

Maior, entre todas as dores,
É a dor de saber-me,
Solitário, voz que jamais será ouvida;

Maior, entre todos os amores,
É o amor de querer-me,
Solidário, mãos a tantas mãos estendidas;

Maior, entre toda solidão, é sonhar-me
Universo onde repousem os sonhos
Que não me sonham e me buscam
Como refúgio de almas sofridas;

Maior, entre toda esperança,
É sentir-me certeza
No amor que me sustenta
E no coração se abriga;

Eis, assim, meu universo:

Solitário na dor,
Infinito no amor,
Eterno nos meus versos...


Renato Oliveira

Ilusões...

As ilusões? Estas passam,
Mas ficam os sonhos.
E eu insisto em sonhar.
Nos sonhos, torno real
O que a realidade me toma
E o consciente desfaz.
Se a dor me enclausura,
Então eu sonho liberdade;
Se a liberdade é sonho distante,
Então eu sonho esperança;
Se a esperança é espera infinita,
Então eu sonho saudades;
Se a saudade me tortura,
Então eu sonho a morte;
Se a morte possuir a vida,
Então eu serei o sonho
A rondar por toda cidade...


Renato Oliveira

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Paz do infinito amor...





Paz do infinito amor
Que me tem,
Vem e derrama tua luz
Por sobre estas vidas
Vazias de sentimentos.
Não deixe te vençam
Os azedumes, os lamentos,
Não te transformem em cruz
Aqueles que te cultuam
Apenas como esperança última
Para a fé perdida.
Paz do infinito amor,
Doce amor de Jesus,
Espalha tua graça
Por entre todas as raças
E faça das diferenças
Um só povo, um só reino,
Unidos pela mesma crença
Das tuas palavras benditas.




Renato Oliveira

Se quiseres me amar...

Se quiseres me amar,
Precisas, antes, saber de mim.
Saber dos meus medos
E dos meus anseios;
Das minhas alegrias
E minhas saudades;
Das minhas mentiras
E minhas verdades;
Dos meus sonhos
E minhas fantasias
Onde me agarro
Nos momentos de solidão.

Se quiseres me amar,
Terás que me buscar
Nos lugares por onde existo
-No sol, na chuva, no vento,
No brilho das estrelas
Que enfeitam a madrugada.

Se quiseres me amar,
Terás que me encontrar
Nos versos da poesia,
Que despertam os mistérios
Da paixão adormecida,
Na dor do amor esquecida;
Terás que fazer da tua crença
Meu credo e minha existência,
Meu querer e minha esperança;
Terás que ter vida além da vida
Para que eu continue a existir
Além de mim mesmo.


Renato Oliveira

Riscos e rabiscos...

Risco o papel branco e puro
Colocado à minha frente,
Imaginando sobre ele as mais belas
Palavras, formando versos solenes
Em poesias que causariam inveja
Ao mais nobre imortal da academia.
Mas o que tenho, afinal,
Não passam de palavras assustadas
Com minha petulância de expô-las,
Assim, a cupidez de tanta gente.
De tanta vergonha, embaralhadas,
Não dizem, sequer, um ceitil
De tudo que precisavam dizer.
E quem morre de vergonha,
Sou eu...


Renato Oliveira

Tantas vezes...

É muito triste quando os dias passam sem notícias de pessoas que estimamos, amamos muito...
E, hoje, meu dia foi muito doloroso.

Em meio a essa balbúrdia que é a vida, uma vez mais vi morrerem minhas esperanças de alcançar um pouco de paz.
Eu precisava, eu procurava um momento de solidão.
E o dia não passava. Lento e preguiçoso, o sol teimava em permanecer no meio do céu, enquanto eu suplicava para que a noite chegasse e, com ela, todo o silêncio que a envolve, que me envolveria também.
Enfim, a noite chegou. Sentei-me na varanda de casa para conversar com a noite, com as estrelas, pedir que me ajudassem a clarear meus pensamentos, meus sentimentos.
Mas havia muitas nuvens no céu. Não havia estrelas, não havia lua.
Mesmo assim, fiquei ali, por algumas horas.
Na verdade, estava ali somente meu corpo. Eu mesmo me encontrava distante, longe, na busca de um olhar. De um olhar perdido na vastidão desse mundo.

Tantas vezes te senti tão perto,
que erguia minha mão para acariciar teu rosto...
Tantas vezes ergui minha mão para secar uma lágrima tua,
ao sentir que choravas...
Tantas vezes sorri, ao pressentir que, ao longe,
tu também sorrias...

Tantas vezes...

Tantas vezes tuas palavras doces aqueceram minha vida...
Quando, para todos em volta, eu não mais existia...
Tantas vezes a ternura da esperança plantastes em mim...
Quando, ao meu coração, nada mais importava...
Tantas vezes, da alma sofrida, afastaste o desgosto...
Quando, em meio às tormentas, me aproximava do fim...

Tantas vezes...

Tantas vezes, em prece aos ventos, teu nome cantava...
Doce canção para embalar meu sono, meu sonhar...
Tantas vezes tu, na distância de nós dois, me acalentava...
Em suaves preces, orações para meu novo despertar...

Tantas vezes...

Uma vez...
Uma vez, uma única vez, ouvi tua voz, doce, terna...
Balada angelical unindo-se ao meu cantar
Do amor que faz, da vida, verdade eterna

Na doce ventura de, sonhando, te amar...

Uma única vez...

Uma vez, uma única vez, bastou-me...
Para saber, do amor, em sua grandeza...
Um sol, radiante, que iluminou-me...
E fez, do amor, a minha natureza...

Uma única vez...

Renato Oliveira


Vai, poeta,
Desperta teus sonhos,
Tristonhos ou coloridos,
Adormecidos no teu peito,
Leito remanso dos teus ideais.
Vai, canta teu canto
P'rá espanto de quem ouve
E não vê a poesia
Que passeia pela vida
E é vida nos teus versos,
Dispersos no infinito do teu ser.
Faz verter o mundo
Profundo das emoções,
Das ilusões que povoam
Os sonhos e não se fazem reais.
Vai, deixa jorrar esta fonte
Reponte dos sentimentos,
Alento dos corações amantes
Que te fazem mirante
Das paixões no amor correspondidas.
Vai, poeta,
Canta teu canto
E faz da tua poesia
A essência desta vida.


Renato Oliveira